Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Maria Eugênia Celso - Il donno è mobile

Com um título a fazer explícita associação à ária “La donna è mobile” (“A mulher é volúvel”), do terceiro ato da ópera “Rigolleto”, do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), o soneto de Maria Eugênia dedica-se a evidenciar a leviandade masculina, usando dos mais diversos artifícios para seduzir uma dona – em especial, o pretenso empenho a um amor eterno, pela via de promessas casamenteiras. 

No caso em apreço, o “amor sem fim” prometido à senhora não demorou mais do que 8 (oito) dias, a comprovar que as juras que lhe foram endereçadas não passavam de frivolidades. Ainda mais grave é a situação de assalariadas que sofrem assédio sexual no ambiente de trabalho, por meio do qual chefes lhes impõem tratos infames, sob a pressão de dispensa. 

J.A.R. – H.C.

 

Maria Eugênia Celso

(1886-1963)

 

Il donno è mobile

 

Como eu te perguntasse num motejo:

− Quanto tempo durar pode, afinal,

a veemente paixão em que te vejo?

− Sempre! disseste em tom sentimental.

 

− Sempre? Em verdade, nem a tanto almejo.

Tão volúveis os homens, em geral,

são sempre todos, que o teu sempre é ensejo

de passares por ente excepcional.

 

Protestaste indignado, erguendo a destra;

juraste ser eu sempre a dona e a mestra

insuplantável de teu coração.

 

Olha, amor, se eu tivesse acreditado...

O ardente sempre, que me foi jurado,

teve oito dias só de duração!

 

Em: “Fantasias e Matutadas” (1925)


Homem em traje oriental

(Rembrandt van Rijn: artista holandês)


Referência:

CELSO, Maria Eugênia. Il donno è mobile. In: NOGUEIRA, Júlio (Organização). Poesia nossa. Rio de Janeiro: Gráfica Lammert Limitada, 1955. p. 280. (Biblioteca do Exército; Vols. 205-206)

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