Com um título a fazer explícita associação à ária “La donna è mobile” (“A mulher é volúvel”), do terceiro ato da ópera “Rigolleto”, do italiano Giuseppe Verdi (1813-1901), o soneto de Maria Eugênia dedica-se a evidenciar a leviandade masculina, usando dos mais diversos artifícios para seduzir uma dona – em especial, o pretenso empenho a um amor eterno, pela via de promessas casamenteiras.
No caso em apreço, o “amor sem fim” prometido à senhora não demorou mais do que 8 (oito) dias, a comprovar que as juras que lhe foram endereçadas não passavam de frivolidades. Ainda mais grave é a situação de assalariadas que sofrem assédio sexual no ambiente de trabalho, por meio do qual chefes lhes impõem tratos infames, sob a pressão de dispensa.
J.A.R. – H.C.
Maria Eugênia Celso
(1886-1963)
Il donno è mobile
Como eu te perguntasse num motejo:
− Quanto tempo durar pode, afinal,
a veemente paixão em que te vejo?
− Sempre! disseste em tom sentimental.
− Sempre? Em verdade, nem a tanto almejo.
Tão volúveis os homens, em geral,
são sempre todos, que o teu sempre é ensejo
de passares por ente excepcional.
Protestaste indignado, erguendo a destra;
juraste ser eu sempre a dona e a mestra
insuplantável de teu coração.
Olha, amor, se eu tivesse acreditado...
O ardente sempre, que me foi jurado,
teve oito dias só de duração!
Em: “Fantasias e Matutadas” (1925)
Homem em traje oriental
(Rembrandt van Rijn: artista holandês)
Referência:
CELSO,
Maria Eugênia. Il donno è mobile. In: NOGUEIRA, Júlio (Organização). Poesia
nossa. Rio de Janeiro: Gráfica Lammert Limitada, 1955. p. 280. (Biblioteca
do Exército; Vols. 205-206)
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