O poeta mineiro empreende um relato poético dos fatos naturais que
envolvem o gato e o rato, apondo com propriedade alguns espaços mais distendidos
entre as palavras, ora para denotar a distância física entre os dois
personagens, ora para representar a proximidade factível ao salto do bichano,
ora ainda para sublinhar o estado de pachorra ou letargia em que este vem a
mergulhar, depois de haver devorado o roedor.
Eis a percepção aguçada da realidade e a conversão criativa dos fatos
por meio da palavra registrada cartograficamente sobre a página. E o motivo, como
no caso em comento, pode ser até o mais trivial possível – e quanto mais
trivial mais difícil se torna capturar elementos capazes de relevar algo
distinto de tudo o que já se viu. E assim se poderá saber quem, de fato, foi
dadivado com um criativo espírito!
J.A.R. – H.C.
Wilson Pereira
(n. 1949)
O Gato
De olhos acesos
o gato persegue o
rato
e calcula o salto
o gato o rato
cada um com seu ato
o gato com o g da
gula
o rato apenas rói
o gato o rato
o pulo do ex(-r)ato
o gato mastiga o rato
que já não o intriga
mas o integra
o gato agora
caminha lento
grato.
Gato e Rato
(Sophie McNally:
ilustradora norte-americana)
Referência:
PEREIRA, Wilson. O gato. In: CAGIANO,
Ronaldo (Org.). Poetas mineiros em
Brasília. Introdução de Affonso Romano de Sant’Anna. Brasília, DF: Varanda,
2002. p. 185.
ö
Nenhum comentário:
Postar um comentário