As imagens que se expressam nos versos
do poema levam-nos à beira-mar, onde um aparente contratempo na relação entre o
falante e a sua musa pode ser identificado na amarga lágrima que um dia foi ele
obrigado a “beber” − salgada como as águas do mar −, tudo porque ela não se
deixa enredar pelo avanço das marés que lhe vêm bater nos pés.
E então surge uma oportuna medusa para
desvendar as razões do choro da moça, a representar na areia os três casos de
semelhança de triângulos, a saber, ângulo x ângulo; lado x lado x lado e lado x
ângulo x lado. E o que haveria em conexão com o poema nessa referência
matemática? Apesar de a musa pretender reforçar os padrões de sua parecença ao
parceiro, encontra-se esta num equilíbrio instável, suscetível de ser passada a
fio de espada pelas águas da vida...
J.A.R. – H.C.
Léon-Paul Fargue
(1876-1957)
Kiosques
En vain la mer fait
le voyage
Du fond de l’horizon
pour baiser tes pieds sages,
Tu les retires
Toujours à temps.
Tu te tais, je ne dis
rien.
Nous n’en pensons pas
plus, peut-être.
Mais les lucioles de
proche en proche
Ont tiré leur lampe
de poche
Tout exprès pour
faire briller
Sur tes yeux calmes
cette larme
Que je fus un jour
obligé de boire.
La mer est bien assez
salée.
Puis une méduse
blonde et bleue
Qui veut s’instruire
en s’attristant
Traverse les étages
bondés de la mer,
Nette et claire comme
un ascenseur,
Et décoiffe sa lampe
à fleur d’eau
Pour te voir feindre
sur le sable
Avec ton ombrelle, en
pleurant,
Les trois cas d’égalité
des triangles.
Vista do Parque
Montsouris
(Henri Rousseau:
pintor francês)
Quiosques
Em vão o mar faz a
viagem
Do fundo do horizonte
para beijar teus pés prudentes:
Tu os retiras
Sempre a tempo.
Calas-te, eu não digo
nada.
Talvez nem pensemos
mais nisso.
Mas os vagalumes,
pouco a pouco,
Sacam suas lanternas
de bolso
Expressamente para
fazer brilhar
Em teus olhos calmos
essa lágrima
Que fui um dia
obrigado a beber.
E o mar se torna bem
salgado.
Depois, certa medusa
ouro e azul,
Que quer instruir-se
entristecendo-se,
Corta as lojas
abarrotadas do mar,
Clara e nítida como
um elevador,
E destouca sua
lâmpada à flor d’água,
Para te ver, com uma
sombrinha,
Chorando, representar
na areia
Os três casos de
igualdade dos triângulos.
Referência:
FARGUE, Léon-Paul. Kiosques /
Quiosques. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond
de. Poesia traduzida. Organização e
notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. Introdução de Júlio Castañon
Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 146; em português:
p. 147. (Coleção “Ás de colete”; 20)
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