Não estou bem convicto a que obra de Julia Kristeva (n. 1941),
psicanalista e feminista búlgaro-francesa, Romano se refere no poema abaixo,
embora possa citar uma na qual, de fato, a autora avança no exame da
prática secular de enfaixamento dos pés, com o objetivo de conter os arroubos das
mulheres chinesas, levando-as a posporem-se aos homens e, por conseguinte, a
uma menor proeminência naquela sociedade: “Sobre as mulheres chinesas”, de 1974.
Segundo o escritor e poeta mineiro, tal conduta, mais do que provocar
danos irreparáveis aos artelhos das meninas, impediu-as de dançar. Cumpre informar que o governo chinês aboliu a prática apenas em meados
do século XX, muito embora se presuma que, num país com uma população na escala
de bilhão, haja idosas que ainda hoje possam apresentar as aludidas deformidades.
J.A.R. – H.C.
Affonso Romano de Sant’Anna
(n. 1971)
De um livro de Kristeva
Por 10 séculos as
mulheres chinesas
andaram com seus pés
enfaixados
e por 10 séculos os
poetas os chamaram
de “lírio de ouro” e
“lírio perfumado”.
No entanto, desde a
Quinta Dinastia, outras mulheres
– as guerreiras, com
seus velozes cavalos,
cruzavam as estepes e
campos de batalha,
não com panelas de
cozinha,
mas com seus pés
alados
e aguçadas adagas e
espadas.
Eram exceção, bem
sei.
Porque a tortura de
quebrar artelhos
de meninas
não fez apenas que
andassem 10 metros
atrás do homem
ou ficassem atadas
aos domésticos misteres,
mas, na China, por 10
séculos
impediu a dança das
mulheres.
Retrato de uma moça
(Guan Zilan: pintora
chinesa)
Referência:
SANT’ANNA, Affonso Romano. De um livro
de Kristeva. In: __________. A catedral
de Colônia e outros poemas. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 1985. p. 56.
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