Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Maya Angelou - Os Homens

Por meio deste poema narrativo de Angelou fica-se sabendo de como havia curiosidade na adolescente de quinze anos que ficava atrás das cortinas espreitando os homens que subiam e desciam a rua em frente à sua casa: um despertar sexual em plena puberdade, momento em que nos revela estar faminta por aqueles sujeitos, livres em sua prerrogativa de ir e vir a algum lugar.

Aquilo que, de início, era um ato prazeroso passou a um exercício de veemência descabida, convertendo-se num defloramento forçado. E é sobre esse ponto que a autora – diga-se de passagem, uma atuante feminista – demarca o estado patriarcal de uma sociedade que nega às mulheres a necessária assertividade para levarem a vida conforme os seus interesses ou aspirações, submetendo-as vezes sem conta aos maus tratos de homens sem o necessário discernimento da realidade.

J.A.R. – H.C.

Maya Angelou
(1928-2014)

Men

When I was young, I used to
Watch behind the curtains
As men walked up and down
The street. Wino men, old men.
Young men sharp as mustard.
See them. Men are always
Going somewhere.
They knew I was there. Fifteen
Years old and starving for them.
Under my window, they would pause,
Their shoulders high like the
Breasts of a young girl,
Jacket tails slapping over
Those behinds,
Men.

One day they hold you in the
Palms of their hands, gentle, as if you
Were the last raw egg in the world. Then
They tighten up. Just a little. The
First squeeze is nice. A quick hug.
Soft into your defenselessness. A little
More. The hurt begins. Wrench out a
Smile that slides around the fear. When the
Air disappears,
Your mind pops, exploding fiercely, briefly,
Like the head of a kitchen match. Shattered.
It is your juice
That runs down their legs. Staining their shoes.
When the earth rights itself again,
And taste tries to return to the tongue,
Your body has slammed shut. Forever.
No keys exist.

Then the window draws full upon
Your mind. There, just beyond
The sway of curtains, men walk.
Knowing something.
Going someplace.
But this time, you will simply
Stand and watch.

Maybe.

In: “And Still I Rise” (1978)

Cena de rua sob a chuva
(Frank Coburn: pintor norte-americano)

Os Homens

Quando eu era jovem, costumava
Espiar por trás das cortinas
Como os homens caminhavam pela rua
Para cima e para baixo. Homens longevos,
beberrões.
Rapazes sápidos feito mostarda.
Observa-os. Os homens estão sempre
Indo a algum lugar.
Sabiam que eu lá estava. Quinze
Anos e faminta por eles.
Detinham-se sob a minha janela,
Com os ombros aprumados como os
Seios de uma jovem,
As caudas das jaquetas a bater sobre
Aqueles traseiros,
Homens.

Certo dia eles te seguram nas
Palmas das mãos, gentilmente, como se
Fosses o último ovo cru do mundo. Então
Te apertam. Só um pouco. O primeiro
Aperto é ótimo. Um rápido abraço.
Suave em sua languidez. Um pouco
Mais e a dor começa. Arrancam-te um
Sorriso que derrapa no medo. Quando o
Ar desaparece,
Tua mente estoura, explodindo ferozmente,
brevemente,
Como a cabeça de um fósforo. Aos pedaços.
É o teu sumo
Que lhes escorre pelas pernas, manchando-lhes
os sapatos.
Quando a terra reaparece sob os teus pés,
E o palato tenta retornar à língua,
Teu corpo já antes se fechara. Para sempre.
E não há chave que o reabra.

Então a janela se projeta por inteiro
Em tua mente. Lá fora, para além do
Tremular das cortinas, caminham os homens.
Sabendo algo.
Indo a algum lugar.
Mas desta vez, simplesmente,
Ficarás de pé a observá-los.

Talvez.

Em: “Ainda Assim Eu me Levanto” (1978)

Referência:

ANGELOU, Maya. Men. In: __________. The complete collected poems of Maya Angelou. New York, NY: Random House, 1994. p. 132-133.

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