Por meio deste poema narrativo de Angelou fica-se sabendo de como havia
curiosidade na adolescente de quinze anos que ficava atrás das cortinas
espreitando os homens que subiam e desciam a rua em frente à sua casa: um
despertar sexual em plena puberdade, momento em que nos revela estar faminta
por aqueles sujeitos, livres em sua prerrogativa de ir e vir a algum lugar.
Aquilo que, de início, era um ato prazeroso passou a um exercício de
veemência descabida, convertendo-se num defloramento forçado. E é sobre esse
ponto que a autora – diga-se de passagem, uma atuante feminista – demarca o
estado patriarcal de uma sociedade que nega às mulheres a necessária
assertividade para levarem a vida conforme os seus interesses ou aspirações,
submetendo-as vezes sem conta aos maus tratos de homens sem o necessário
discernimento da realidade.
J.A.R. – H.C.
Maya Angelou
(1928-2014)
Men
When I was young, I
used to
Watch behind the
curtains
As men walked up and
down
The street. Wino men,
old men.
Young men sharp as
mustard.
See them. Men are
always
Going somewhere.
They knew I was
there. Fifteen
Years old and
starving for them.
Under my window, they
would pause,
Their shoulders high
like the
Breasts of a young
girl,
Jacket tails slapping
over
Those behinds,
Men.
One day they hold you
in the
Palms of their hands,
gentle, as if you
Were the last raw egg
in the world. Then
They tighten up. Just
a little. The
First squeeze is
nice. A quick hug.
Soft into your
defenselessness. A little
More. The hurt
begins. Wrench out a
Smile that slides
around the fear. When the
Air disappears,
Your mind pops,
exploding fiercely, briefly,
Like the head of a
kitchen match. Shattered.
It is your juice
That runs down their
legs. Staining their shoes.
When the earth rights
itself again,
And taste tries to
return to the tongue,
Your body has slammed
shut. Forever.
No keys exist.
Then the window draws
full upon
Your mind. There,
just beyond
The sway of curtains,
men walk.
Knowing something.
Going someplace.
But this time, you
will simply
Stand and watch.
Maybe.
In: “And Still I Rise” (1978)
Cena de rua sob a chuva
(Frank Coburn: pintor
norte-americano)
Os Homens
Quando eu era jovem,
costumava
Espiar por trás das
cortinas
Como os homens caminhavam
pela rua
Para cima e para
baixo. Homens longevos,
beberrões.
Rapazes sápidos feito
mostarda.
Observa-os. Os homens
estão sempre
Indo a algum lugar.
Sabiam que eu lá
estava. Quinze
Anos e faminta por
eles.
Detinham-se sob a
minha janela,
Com os ombros
aprumados como os
Seios de uma jovem,
As caudas das
jaquetas a bater sobre
Aqueles traseiros,
Homens.
Certo dia eles te
seguram nas
Palmas das mãos,
gentilmente, como se
Fosses o último ovo
cru do mundo. Então
Te apertam. Só um
pouco. O primeiro
Aperto é ótimo. Um
rápido abraço.
Suave em sua
languidez. Um pouco
Mais e a dor começa.
Arrancam-te um
Sorriso que derrapa
no medo. Quando o
Ar desaparece,
Tua mente estoura,
explodindo ferozmente,
brevemente,
Como a cabeça de um
fósforo. Aos pedaços.
É o teu sumo
Que lhes escorre
pelas pernas, manchando-lhes
os sapatos.
Quando a terra
reaparece sob os teus pés,
E o palato tenta
retornar à língua,
Teu corpo já antes se
fechara. Para sempre.
E não há chave que o reabra.
Então a janela se projeta por inteiro
Em tua mente. Lá fora,
para além do
Tremular das
cortinas, caminham os homens.
Sabendo algo.
Indo a algum lugar.
Mas desta vez,
simplesmente,
Ficarás de pé a
observá-los.
Talvez.
Em: “Ainda Assim Eu me Levanto” (1978)
Referência:
ANGELOU, Maya. Men. In: __________. The complete collected poems of Maya
Angelou. New York, NY: Random House, 1994. p. 132-133.
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