Sobrecarregado de ira e desespero diante das ações dos homens, quer
pelas guerras entre as nações quer contra o seu próprio mundo, o ente lírico
deixa transparecer toda a dor que sente e que não se atenua em razão de fatos
que marcaram – e ainda marcam – a história dos EUA, fruto de um estado mental
em desequilíbrio, ainda mais arraigado pelos valores inculcados de supremacia e
dominação sobre povos menos assertivos, v.g., como os indígenas de seu país.
Esclareça-se que Merwin, quando em vida, atuou como um firme ativista
antiguerra e defensor do meio ambiente, deplorando todas as formas de alienação
do homem frente à natureza, julgando-as desastrosas, a exemplo do consabido modo
como o homem branco operou a expansão do império sobre o oeste americano: a seu
ver, a terra não deve ser conquistada, senão reverenciada!
J.A.R. – H.C.
W. S. Merwin
(1927-2019)
Western Country
Some days after so
long even the sun
is foreign
I watch the exiles
their stride
stayed by their
antique faith that no one
can die in exile
when all that is true
is that death is not exile
Each no doubt knows a
western country
half discovered
which he thinks is
there because
he thinks he left it
and its names are still
written in the sun
in his age and he
knows them
but he will never
tread their ground
At some distances I
can no longer
sleep
my countrymen are
more cruel than their stars
and I know what moves
the long
files stretching into
the mountains
each man with his gun
his feet
one finger’s breadth
off the ground
Trilha de uma família de Oregon
(Morgan Weistling:
ilustrador norte-americano)
Oeste
Há dias em que, após
certo tempo, até o sol
é estrangeiro
vejo os exilados
sua marcha
detida pela antiga fé
de que ninguém
pode morrer no exílio
quando toda a verdade
é que a morte não é exílio
Todos decerto
conhecem uma terra do oeste
semidescoberta
que deve estar lá
porque
sabem que a deixaram
e os nomes dela ainda
estão escritos no sol
em suas idades e eles
os conhecem
mas jamais vão pisar
em seu chão
De um certo ponto eu
não posso mais
dormir
são os conterrâneos
mais cruéis do que seus astros
e eu sei o que move
as longas
filas se esticando
nas montanhas
cada homem com a
pistola
seus pés
um dedo acima do chão
Referência:
MERWIN, W. S. Western country / Oeste.
Tradução de Antonio Carlos Secchin. In: KEYS, Kerry Shawn. Quingumbo. New North American Poetry / Nova Poesia Norte-Americana.
Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 158; em
português: p. 159.
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