Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

W. S. Merwin - Oeste

Sobrecarregado de ira e desespero diante das ações dos homens, quer pelas guerras entre as nações quer contra o seu próprio mundo, o ente lírico deixa transparecer toda a dor que sente e que não se atenua em razão de fatos que marcaram – e ainda marcam – a história dos EUA, fruto de um estado mental em desequilíbrio, ainda mais arraigado pelos valores inculcados de supremacia e dominação sobre povos menos assertivos, v.g., como os indígenas de seu país.

Esclareça-se que Merwin, quando em vida, atuou como um firme ativista antiguerra e defensor do meio ambiente, deplorando todas as formas de alienação do homem frente à natureza, julgando-as desastrosas, a exemplo do consabido modo como o homem branco operou a expansão do império sobre o oeste americano: a seu ver, a terra não deve ser conquistada, senão reverenciada!

J.A.R. – H.C.

W. S. Merwin
(1927-2019)

Western Country

Some days after so long even the sun
is foreign
I watch the exiles
their stride
stayed by their antique faith that no one
can die in exile
when all that is true is that death is not exile

Each no doubt knows a western country
half discovered
which he thinks is there because
he thinks he left it
and its names are still written in the sun
in his age and he knows them
but he will never tread their ground

At some distances I can no longer
sleep
my countrymen are more cruel than their stars
and I know what moves the long
files stretching into the mountains
each man with his gun
his feet
one finger’s breadth off the ground

Trilha de uma família de Oregon
(Morgan Weistling: ilustrador norte-americano)

Oeste

Há dias em que, após certo tempo, até o sol
é estrangeiro
vejo os exilados
sua marcha
detida pela antiga fé de que ninguém
pode morrer no exílio
quando toda a verdade é que a morte não é exílio

Todos decerto conhecem uma terra do oeste
semidescoberta
que deve estar lá porque
sabem que a deixaram
e os nomes dela ainda estão escritos no sol
em suas idades e eles os conhecem
mas jamais vão pisar em seu chão

De um certo ponto eu não posso mais
dormir
são os conterrâneos mais cruéis do que seus astros
e eu sei o que move as longas
filas se esticando nas montanhas
cada homem com a pistola
seus pés
um dedo acima do chão

Referência:

MERWIN, W. S. Western country / Oeste. Tradução de Antonio Carlos Secchin. In: KEYS, Kerry Shawn. Quingumbo. New North American Poetry / Nova Poesia Norte-Americana. Antologia bilíngue. São Paulo, SP: Escrita, 1980. Em inglês: p. 158; em português: p. 159.

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