Pelo meu absoluto desconhecimento do
idioma chinês, com os seus inúmeros logogramas, muitas vezes bastante parecidos, embora com sentidos bem diversos, sou capaz de compreender as razões pelas quais as
versões a um outro idioma, como o inglês ou o português, possam resultar em algumas
diferenças, como as que se notam nas traduções abaixo transcritas.
Salvo engano, Jerome P. Seaton, um especialista em literatura zen e conhecido
tradutor do chinês ao inglês, propôs-se verter o texto a um sentido que, ainda que não
seja literal em relação ao original, permitisse percutir de um modo mais
amistoso, digamos assim, aos olhos de um leitor ocidental. O que diria, você,
internauta?
Às vezes é suficiente
escalar uma montanha próxima para ver todos os assuntos humanos literalmente a
partir de cima, como o faz este grande poeta da dinastia Tang, a Era de Ouro da
poesia chinesa. (MILOSZ, 1998, p. 84)
J.A.R. – H.C.
Li Bai
(701 d.C. – 762 d.C.)
古风·登高望四海
登高望四海
天地何漫漫
霜被群物秋
风飘大荒寒
荣华东流水
万事皆波澜
白日掩徂辉
浮云无定端
梧桐巢燕雀
枳棘栖鸳鸾
且复归去来
剑歌行路难
Cena para “O último
dos moicanos”
Cora ajoelhada aos
pés de Tanemund
(Thomas Cole: pintor
anglo-americano)
Ancient Air
Climbed high, to gaze
upon the sea,
Heaven and Earth, so
vast, so vast.
Frost clothes all
things in Autumn,
Winds waft, the broad
wastes cold.
Glory, splendor;
eastward flowing stream,
This world’s affairs,
just waves.
White sun covered,
its dying rays,
The floating clouds,
no resting place.
In lofty Wu-t’ung
trees nest lowly finches.
Down among the thorny
brush the Phoenix perches.
All that’s left, to
go home again,
Hand on my sword I
sing, “The Going’s Hard.”
(Translated from the Chinese by J. P. Seaton)
Canto antigo (do alto contemplar os quatro
mares...)
do alto contemplar os
quatro mares
céu-terra o mundo
inteiro vasto o vasto
lençol de gelo o
outono este tecido
lufar do vento ao
mais deserto frio
riquezas águas rumo
ao leste fluem
os dez mil seres
pulsam tremeluzem
o branco sol
recobre-se em radiâncias
as baças nuvens de impreciso
alcance
pardais e andorinhas
em seus ninhos
preciosos raros
pássaros e espinhos
porém voltar mais uma
vez preparar-se
a espada cante e
ampare à dura estrada
Referências:
Em Chinês e em Português
BAI, Li. 古风·登高望四海 / Canto antigo (do alto contemplar os
quatro mares...). Tradução de Ricardo Primo Portugal e Tan Xiao. In: PORTUGAL,
Ricardo Primo; XIAO, Tan (Tradução, organização, notas e introdução). Antologia da poesia clássica chinesa:
dinastia Tang. São Paulo, SP: Editora da Unesp, 2013. Em chinês e em português:
p. 94.
Em Inglês
PO, Li. Ancient air. Translated from
the Chinese from English by J. P. Seaton. In: MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an
international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin
Harcourt, 1998. p. 84.
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