O poeta ítalo-argentino divaga, em meio
a artifícios imaginosos e a algum hermetismo, sobre o dia em que, como assinala
Drummond (1902-1987) em seu belíssimo poema “Nosso Tempo”, a gente latino-americana adentrará a cidade dos “homens completos”, expressão extraída,
como facilmente dedutível, aos pensamentos sócio-políticos do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883).
Nota-se um claro viés militante e
protestatário de Portolago, infenso ao modo de produção exploratório de grande parte
da classe trabalhadora do continente, ainda hoje submetida a situações que não
a tornam um contingente cidadão, do que se deduz que o estágio no qual projetado
o cenário descrito pelo poeta ainda se encontra num porvir – imediato ou
mediato −, ou mesmo a longuíssimo prazo, se é que um dia se concretizará!
J.A.R. – H.C.
José Portogalo
(1904-1973)
El tema del alba en el trabajo
Entramos en el alba
como en un Canto, alegres.
Ya no hay
padecimientos, ni rencores, ni luchas,
porque aquí, frente
al cielo, que es musgo en las palabras,
la vida no es
invierno, ni es angustia.
Ni soledad blindada,
ni desmayada sombra;
es sangre que
calienta las manos y los labios
para impulsar los
ímpetus que en espiral ascienden
con la voz de los
pájaros, ¡con la voz de los pájaros!
Ante esta certidumbre
de ternura que acendra
todo el cielo y el
alba de este júbilo nuevo,
se amparan nuestras
noches con su tropel de sombras
cuanto más fatigadas,
más torvas en el sueño.
– Sueño con ceguedad
y con torpeza
de incertidumbre en
sórdidos refugios;
vago como esos gritos
trashumantes
que utiliza el
vórtice del mundo –.
E iremos cuesta
arriba, más alto, ¡tanto! Como
transponer esa nube
que mansamente mira
y quieta nos espera
para el bautismo alegre
del éxodo en milagros
de rubios mediodías.
La vida no es
invierno, ni es angustia,
ni tremedal oculto,
ni turbiedad de lágrimas;
si abajo gira el
vértigo y la inmisericordia,
arriba reverberan
nuestras manos y el alba
limpia, como el
perdón del agua entre las rocas,
– ¡porque el perdón del
cielo no es más que gota de agua
revelando el
prestigio de la efusión jugosa!
Hermanos míos: todos
los rencores se amuran;
prevalece tan sólo,
reflorecida en cantos,
como una intransitada
demora, la ternura.
¡Que ella agriete la
noche del vértigo de abajo!
Lavadeiras às bordas do
rio
(Dawn Emerson:
pintora norte-american)
O tema do amanhecer no trabalho
Entramos no amanhecer
como num Canto, alegres.
Já não há padecimentos,
rancores ou lutas,
porque aqui, diante
do céu, que é musgo nas palavras,
a vida não é inverno,
tampouco angústia.
Nem solidão blindada,
nem desvanecida sombra,
é sangue que aquece
as mãos e os lábios
para impulsionar os
ímpetos que em espiral ascendem
com a voz dos
pássaros, com a voz dos pássaros!
Diante desta certeza
de ternura que domina
todo o céu e o
amanhecer deste novo júbilo,
amparam-se nossas
noites com seu tropel de sombras
quanto mais
fatigadas, mais terríveis no sono.
− Sono com cegueira e
com o incômodo
de incerteza em
sórdidos refúgios;
vago como esses
gritos transumantes
de que se vale o
vórtice do mundo −.
E iremos morro acima,
bem alto, tanto mais! A fim de
transpor essa nuvem
que espreita mansamente,
e quieta nos espera para
o batismo alegre
do êxodo, em milagres
de dourados meios-dias.
A vida não é inverno,
nem é angústia,
nem lodaçal oculto,
nem turvação de lágrimas;
se para baixo giram a
vertigem e a desmisericórdia,
para cima reverberam
nossas mãos e o límpido
amanhecer, como o
perdão da água entre as rochas,
− porque o perdão do
céu não é mais que gota de água
a revelar o prestígio
da substanciosa efusão!
Meus irmãos: todos os
rancores são domináveis;
prevalece tão
somente, reflorescida em cantos,
como uma intransitada
demora, a ternura.
Que ela espedace cá
embaixo a noite da vertigem!
Referência:
PORTOGALO, José. El tema del alba en el
trabajo. In: LABRADOR, Elis; CHERICIÁN, David (Compiladores). Asalto al cielo: antologia poética. 2.
ed. Caracas, VE: Fundación Editorial ‘El perro y la rana’, 2010. Disponível neste endereço. Acesso em: 4 jun. 2020. p. 282-283.
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