Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de agosto de 2020

José Portogalo - O tema do amanhecer no trabalho

O poeta ítalo-argentino divaga, em meio a artifícios imaginosos e a algum hermetismo, sobre o dia em que, como assinala Drummond (1902-1987) em seu belíssimo poema “Nosso Tempo”, a gente latino-americana adentrará a cidade dos “homens completos”, expressão extraída, como facilmente dedutível, aos pensamentos sócio-políticos  do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883).

Nota-se um claro viés militante e protestatário de Portolago, infenso ao modo de produção exploratório de grande parte da classe trabalhadora do continente, ainda hoje submetida a situações que não a tornam um contingente cidadão, do que se deduz que o estágio no qual projetado o cenário descrito pelo poeta ainda se encontra num porvir – imediato ou mediato −, ou mesmo a longuíssimo prazo, se é que um dia se concretizará!

J.A.R. – H.C.

José Portogalo
(1904-1973)

El tema del alba en el trabajo

Entramos en el alba como en un Canto, alegres.
Ya no hay padecimientos, ni rencores, ni luchas,
porque aquí, frente al cielo, que es musgo en las palabras,
la vida no es invierno, ni es angustia.

Ni soledad blindada, ni desmayada sombra;
es sangre que calienta las manos y los labios
para impulsar los ímpetus que en espiral ascienden
con la voz de los pájaros, ¡con la voz de los pájaros!

Ante esta certidumbre de ternura que acendra
todo el cielo y el alba de este júbilo nuevo,
se amparan nuestras noches con su tropel de sombras
cuanto más fatigadas, más torvas en el sueño.
– Sueño con ceguedad y con torpeza
de incertidumbre en sórdidos refugios;
vago como esos gritos trashumantes
que utiliza el vórtice del mundo –.

E iremos cuesta arriba, más alto, ¡tanto! Como
transponer esa nube que mansamente mira
y quieta nos espera para el bautismo alegre
del éxodo en milagros de rubios mediodías.

La vida no es invierno, ni es angustia,
ni tremedal oculto, ni turbiedad de lágrimas;
si abajo gira el vértigo y la inmisericordia,
arriba reverberan nuestras manos y el alba
limpia, como el perdón del agua entre las rocas,
¡porque el perdón del cielo no es más que gota de agua
revelando el prestigio de la efusión jugosa!

Hermanos míos: todos los rencores se amuran;
prevalece tan sólo, reflorecida en cantos,
como una intransitada demora, la ternura.

¡Que ella agriete la noche del vértigo de abajo!

Lavadeiras às bordas do rio
(Dawn Emerson: pintora norte-american)

O tema do amanhecer no trabalho

Entramos no amanhecer como num Canto, alegres.
Já não há padecimentos, rancores ou lutas,
porque aqui, diante do céu, que é musgo nas palavras,
a vida não é inverno, tampouco angústia.

Nem solidão blindada, nem desvanecida sombra,
é sangue que aquece as mãos e os lábios
para impulsionar os ímpetos que em espiral ascendem
com a voz dos pássaros, com a voz dos pássaros!

Diante desta certeza de ternura que domina
todo o céu e o amanhecer deste novo júbilo,
amparam-se nossas noites com seu tropel de sombras
quanto mais fatigadas, mais terríveis no sono.
− Sono com cegueira e com o incômodo
de incerteza em sórdidos refúgios;
vago como esses gritos transumantes
de que se vale o vórtice do mundo −.

E iremos morro acima, bem alto, tanto mais! A fim de
transpor essa nuvem que espreita mansamente,
e quieta nos espera para o batismo alegre
do êxodo, em milagres de dourados meios-dias.

A vida não é inverno, nem é angústia,
nem lodaçal oculto, nem turvação de lágrimas;
se para baixo giram a vertigem e a desmisericórdia,
para cima reverberam nossas mãos e o límpido
amanhecer, como o perdão da água entre as rochas,
− porque o perdão do céu não é mais que gota de água
a revelar o prestígio da substanciosa efusão!

Meus irmãos: todos os rancores são domináveis;
prevalece tão somente, reflorescida em cantos,
como uma intransitada demora, a ternura.

Que ela espedace cá embaixo a noite da vertigem!

Referência:

PORTOGALO, José. El tema del alba en el trabajo. In: LABRADOR, Elis; CHERICIÁN, David (Compiladores). Asalto al cielo: antologia poética. 2. ed. Caracas, VE: Fundación Editorial El perro y la rana, 2010. Disponível neste endereço. Acesso em: 4 jun. 2020. p. 282-283.

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