Em aparente diálogo com a pureza e a eternidade do amor entre Diotima e
Hyperion, em “Hyperion ou o Eremita na Grécia” (v.2 - 1799), de Hölderlin, Costa
e Silva evoca a natureza etérea dos deuses, que somente veem em silenciosa, límpida
e infinita claridade, e, por conseguinte, vislumbram o que ocorre aos
comuns dos mortais, por entre as vendas pouco espessas que lhes cobrem os olhos.
E aos que não pairam na eternidade e ardem no fogo contingente do
momento, em contraposição ao espectro escuro das vísceras, resta apenas a
beleza efêmera da pele dos amantes num gesto apaixonado, ou, como diria o
poetinha (V.M.), em seu memorável soneto: “Que [o amor] não seja imortal, posto
que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”.
J.A.R. – H.C.
Alberto da Costa e Silva
(n. 1931)
A Adolescência de Hölderlin
Os deuses correm
sobre a relva e atam
o sol ao seu redor.
Lançam o efêmero
amanhecer no areal.
E, sendo a venda
que levam sobre os
olhos pouco espessa,
aprendem nossos
rostos,
para a morte.
Nosso fel escondido
só veriam
e o escuro das
vísceras,
se, amantes,
não suasse a beleza em
nossa pele.
(Por isso, contra os
deuses,
há o eterno.)
Em: “Ao lado de Vera” (1997)
O Nascimento do Sol e o Triunfo de Baco
(Corrado Giaquinto:
pintor italiano)
Referência:
COSTA E SILVA, Alberto. A adolescência
de Hölderlin. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Antologias ABL: poesia / ABL’s Anthologies: poems. Idealização e
apresentação de Ana Maria Machado. Organização de Domício Proença Filho e Marco
Lucchesi. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: ABL, 2013. p. 12.
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