Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Alberto da Costa e Silva - A adolescência de Hölderlin

Em aparente diálogo com a pureza e a eternidade do amor entre Diotima e Hyperion, em “Hyperion ou o Eremita na Grécia” (v.2 - 1799), de Hölderlin, Costa e Silva evoca a natureza etérea dos deuses, que somente veem em silenciosa, límpida e infinita claridade, e, por conseguinte, vislumbram o que ocorre aos comuns dos mortais, por entre as vendas pouco espessas que lhes cobrem os olhos.

E aos que não pairam na eternidade e ardem no fogo contingente do momento, em contraposição ao espectro escuro das vísceras, resta apenas a beleza efêmera da pele dos amantes num gesto apaixonado, ou, como diria o poetinha (V.M.), em seu memorável soneto: “Que [o amor] não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure”.

J.A.R. – H.C.

Alberto da Costa e Silva
(n. 1931)

A Adolescência de Hölderlin

Os deuses correm sobre a relva e atam
o sol ao seu redor.
Lançam o efêmero
amanhecer no areal.

 E, sendo a venda
que levam sobre os olhos pouco espessa,
aprendem nossos rostos,
para a morte.

Nosso fel escondido
só veriam
e o escuro das vísceras,
se, amantes,
não suasse a beleza em nossa pele.

(Por isso, contra os deuses,
há o eterno.)

Em: “Ao lado de Vera” (1997)

O Nascimento do Sol e o Triunfo de Baco
(Corrado Giaquinto: pintor italiano)

Referência:

COSTA E SILVA, Alberto. A adolescência de Hölderlin. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Antologias ABL: poesia / ABL’s Anthologies: poems. Idealização e apresentação de Ana Maria Machado. Organização de Domício Proença Filho e Marco Lucchesi. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: ABL, 2013. p. 12.

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