Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Fernando Fortes - Latifúndio

Num país que, até onde se saiba, jamais promoveu algo que, de fato, possa ser caracterizado como “reforma agrária” – e que, talvez, jamais a levará à frente –, o que muito ainda se encontra em terras de Pindorama são latifúndios sem destinação à produção agropecuária, ao tempo que levas de sem-terra vagam pelo continente à procura de algum assentamento.

Enquanto isso, não se pode afirmar que os latifundiários estejam em condições financeiras dificultosas. E mais ainda: em torrões de difícil acesso, inúmeras são as ocorrências de submissão de labutadores rurais a trabalho escravo, do qual dificilmente conseguem se libertar, por razões espúrias de duvidosos endividamentos ou contrapartidas não equânimes. Quanto aos que buscam se organizar em sindicatos – bem –, costumam ser vítimas, aqui e ali, de execuções sumárias.

J.A.R. – H.C.

Fernando Fortes
(1936-2016)

Latifúndio

E vi um homem de cifras
contar as pilhas de dinheiro
por cima das tripas dos outros homens
Eu vi o homem somar as costelas dos outros homens
para calcular quanto dinheiro tinha
Eu assisti à contagem sinistra
das costelas mortas dos homens mortos
pelo homem vivo
O homem se enfurecia:
a cada costela morta
seu lucro diminuía

Latifúndio Andaluz
(Małgorzata Kaczmarska: artista polonesa)

Referência:

FORTES, Fernando. Latifúndio. In: FÉLIX, Moacyr (Dir.). Poesia Viva I. Introdução de Antônio Houaiss. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1968. p. 110. (Coleção ‘Poesia Hoje’, Direção Moacyr Félix, v. 18, Série ‘Novos Poetas do Brasil’)

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