Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Óscar Alfaro - O pássaro revolucionário

O poeta boliviano conta-nos uma hipotética historinha que se passou com uma ave adjetivada como “revolucionária”, ao confrontar o poder de um porco que, tal como na novela satírica “A Revolução dos Bichos” (“Animal Farm”), de 1945, de George Orwell (1903-1950), tomou para si o poder sobre a granja, impondo ali as regras de modo nada equânime.

Resultado: diante da afronta e da tamanha petulância em dizer a verdade da espoliação a que estava ele próprio e outros animais submetidos, o suíno não contou duas vezes em ordenar que o pássaro fosse detonado. Qualquer semelhança com histórias reais acontecidas também em Pindorama não terá sido mera coincidência!

J.A.R. – H.C.

Óscar Alfaro
(1921-1963)

El pájaro revolucionario

Ordena el cerdo granjero:
¡Fusilen a todo pájaro!
Y suelta por los trigales su policía de gatos.

Al poco rato le traen
Un pajarillo aterrado
Que aún tiene dentro del pico
Un grano que no ha tragado.

¡Vas a morir por ratero!...
¡Si soy pájaro honrado,
De profesión carpintero, que vivo de mi trabajo!
¿Y por qué robas mi trigo?
– Lo cobro de mi salario.
Que Ud. se negó a pagarme.
Y aún me debe muchos granos.

Y lo mismo está debiendo
A los sapos hortelanos,
A mi compadre el hornero
Y al minero escarabajo
A las abejas obreras
¡Y a todos los que ha estafado!
Usted hizo su riqueza
Robando a los proletarios…

¡Qué peligro!... ¡Un socialista!
¡A fusilarlo en el acto!
¡Preparen!... ¡Apunten!...
¡Fuego!
¡Demonio… si hasta los pájaros
En la América Latina
Se hacen revolucionarios!...

De Todas as Cidades do Sul Centenas
de Migrantes partiram Rumo ao Norte
Painel 3 da Série “A Migração”
(Jacob Lawrence: pintor norte-americano)

O pássaro revolucionário

Ordena o suíno fazendeiro:
− Fuzilem todos os pássaros!
E solta pelos trigais a sua polícia de gatos.

Daí a pouco lhe trazem
Um passarinho aterrorizado
Que ainda tem dentro do bico
Um grão que não engoliu.

− Vais morrer como um gatuno!...
− Como, se sou um pássaro honesto,
Carpinteiro de profissão, que vivo de meu trabalho!
− E por que roubas meu trigo?
− Ponho na conta de meu salário
Que Tu te negaste a me pagar.
E ainda me deves muitos grãos.

E o mesmo estás devendo
Aos sapos horticultores,
A meu compadre o joão-de-barro,
Ao escaravelho mineiro,
Às abelhas operárias
E a todos que extorquiste!
Fizeste a tua riqueza
Roubando os proletários!...

− Que perigo!... Um socialista!
A ser fuzilado no ato!
Preparem!... Apontem!...
Fogo!
Demônio... se até os pássaros
na América Latina
se tornam revolucionários!...

Referência:

ALFARO, Óscar. El pájaro revolucionario. In: LABRADOR, Elis; CHERICIÁN, David (Compiladores). Asalto al cielo: antologia poética. 2. ed. Caracas, VE: Fundación Editorial El perro y la rana, 2010. Disponível neste endereço. Acesso em: 4 jun. 2020. p. 397.

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