Vitier, poeta cubano, joga com a possibilidade de um conflito armado
tendo a ilha como epicentro da cizânia entre os EUA e URSS, lá pelos começos da
década de sessenta do século passado, quando os revolucionários tomaram o poder
– Fidel à frente –, levando a que Washington, desde então, haja promovido
açulados embargos econômicos a Cuba.
E àquela altura, sublinha Vitier, a política então chegara “à raiz do
mundo, aos átomos, aos elétrons”, vindo a perpassar o quotidiano das pessoas,
embora não exatamente o da natureza: podia-se ir à praia, pensar nos gregos (as
cidades-estados do mundo político helênico?) ou submergir “na feroz frescura do
esquecimento”. Cuba, pois assim, seria uma “inesperada torre de marfim”!
J.A.R. – H.C.
Cintio Vitier
(1921-2009)
Torre de Marfil
La política está llegando a la raíz del mundo,
a los átomos,
a los electrones.
El cielo parece libre,
los árboles, ajenos a la historia,
la mariposa, ausente del periódico.
Todavía
podemos ir al mar
y pensar en los griegos,
o, tal vez, sumergirnos
en la feroz frescura del olvido.
Naturaleza, en suma
(aquí donde no caen bombas,
todavía)
es una torre de marfil inesperada.
Mas no hay que preocuparse, pues ya será la última.
Los dispositivos están situados en el centro de la flor.
Enero de 1967
(De: “Testimonios”,
1968)
A Torre de Marfim
(Gertrude Abercrombie:
pintora norte-americana)
Torre de Marfim
A política está chegando ao cerne do mundo,
aos átomos,
aos elétrons.
O céu parece livre,
as árvores, alheias à história,
a borboleta, ausente do jornal.
Ainda
podemos ir ao mar
e pensar nos gregos,
ou talvez nos submergir
na feroz frescura do esquecimento.
Natureza, em suma
(aqui onde ainda não caem
bombas)
é uma torre de marfim inesperada.
Porém não há com que se preocupar, porque esta será a última.
Os dispositivos estão situados no centro da flor.
Janeiro de 1967
(De: “Testemunhos”,
1968)
Referência:
VITIER, Cintio. Torre de marfil / Torre de marfim. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. In: LEMUS, Virgilio López (Seleção, prefácio e notas). Vinte poetas cubanos do século XX. Tradução de Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros. Edição bilíngue. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1995. Em espanhol: p. 182; em português: p. 183.
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