A história a que Bly se refere, segundo ele, com uma certa frequência,
ocorre num condado agrícola, talvez no próprio interior do Estado de Minnesota,
onde o autor nasceu numa comunidade dominada por agricultores imigrantes
noruegueses. E pelo que se depreende, não se está num estágio avançado de
colheita e debulha de grãos de aveia – com o emprego de grandes e modernas
ceifeiras debulhadoras –, pois há pessoas providenciando ações que sugerem o
emprego mais intensivo de mão de obra.
O escândalo diz respeito a uma escapadela de um reverendo com a diretora
do coral da igreja, deixando a sua esposa aliviada, embora receosa: ela estima
que, contanto que os fatos desabonadores – estando debaixo d’água, como parte
da casa de um castor – ocorram bastante longe dos seus olhos, pouco se lhe dá,
embora receie de que a parte da estrutura à vista de todos venha um dia a
sucumbir com tais infidelidades.
Mas o fato é que a história chegou ao conhecimento pleno dos habitantes
da aldeia, desde os mais humildes – autênticos boias-frias, como nos latifúndios
de Pindorama –, até autoridades como o Assessor do Condado – uma espécie de estimador
a valor de mercado dos imóveis do município e classificador conforme o seu uso,
de forma a permitir que os impostos sobre a propriedade sejam distribuídos
equitativamente entre todos os seus possuintes.
J.A.R. – H.C.
Robert Bly
(n. 1926)
The Scandal
The day the minister
ran off with the choir director
The bindlestiffs felt
some gaiety in their arms.
Spike-pitchers threw
their bundles higher on the load
And the County
Assessor drove with a tiny smile.
Actually the
minister’s wife felt relieved that morning,
Though afraid too.
She walked out by the slough,
And admired the
beaver’s house, partly above
Water, partly
beneath. That seemed right.
The minister felt
dizzy as the two of them drove
For hours: country
music and the loose ribbon
Mingled in his mind
with the Song of Songs.
They stopped at a
small motel near Bismarck.
For the threshers,
the stubble was dry,
The oat dust itchy,
the big belt needed grease,
The loads pulled up
to the machine. This story happens
Over and over, and it’s
a good story.
A fuga de carro
(Annsabelle R. Ramas:
artista filipino-canadense)
O Escândalo
No dia em que o
ministro fugiu com a diretora do coral,
Os ceifadores
sentiram certa alegria em suas mãos.
Os apanhadores de
feixes atiraram-nos mais alto sobre a carga
E o Assessor do
Condado por ali rondava com um leve sorriso.
Na verdade, naquela
manhã, a esposa do ministro sentiu-se aliviada,
Embora também receosa.
Saiu pela charneca,
E admirou a casa do
castor, em parte acima do nível d’água,
Em parte abaixo. Isso
lhe pareceu correto.
O ministro sentiu
vertigens enquanto os dois dirigiam
Por horas: música
country e rédeas soltas
Misturavam-se em sua
mente com o Cântico dos Cânticos.
Estacionaram num
pequeno motel perto de Bismarck.
Para os debulhadores
o restolho estava seco,
O pó de aveia gerava
pruridos, a correia grande precisava de graxa,
As cargas ficaram retidas
na máquina. Essa história
Acontece repetidas
vezes, e é uma boa história.
Referência:
BLY, Robert. The scandal. In: KEILLOR,
Garrison (Selector and Introducer). Good
poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p.358.
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