Numa evocatória com matiz religioso, Tasso dispõe-se a fazer a apologia
da natureza e, ao descrevê-la, afirma-a pela atribuição de toda a beleza ao
Criador: colinas, barrancos, encostas, montanhas, árvores, céus – em síntese,
tudo quanto existe exprimiria as prodigiosas e “lúcidas intenções divinas”.
Sob a ótica do poeta, há suficiente nitidez na percepção dessas perfeitas
criações, razão pela qual, na metáfora que emprega, associa-as a “águas-marinhas
diáfanas”. Tem-se então um “paisagismo” trasladado das palavras de um poema às
impressões pictóricas de uma tela, ambas à busca de mimetizar um cenário que se
compendia numa visão algo panteísta.
J.A.R. – H.C.
Tasso da Silveira
(1895-1968)
Nitidez
Sob o céu limpo
a paisagem é um claro
lampejamento
de ágatas e cristais.
Pelo recorte límpido
das colinas
escorre o sol.
Os barrancos próximos
são de ouro velho
e as montanhas
distantes são águas-marinhas diáfanas.
Todas as linhas se
desenham nítidas,
infinitamente
definidas:
Cada árvore é uma
presença prodigiosa
e cada pedra
uma lanterna acesa.
Senhor, como a tua
beleza é pura.
E como as coisas
exprimem lucidamente
as tuas lúcidas
intenções divinas...
Em: “O Canto Absoluto” (1940)
As Montanhas Rochosas
(Albert Bierstadt:
pintor germano-americano)
Referência:
SILVEIRA, Tasso Azevedo da. Nitidez. In:
PONTIERO, Giovanni (Notes and Introduction). An anthology of brazilian modernist poetry. 1st. ed. Oxford, EN:
Pergamon Press, 1969. p. 131.
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