Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 10 de maio de 2020

Paula Gunn Allen - A Avó

Identificada com o povo a que pertencia a sua mãe – o “Laguna Pueblo” –, a poetisa norte-americana descreve os hábitos de sua avó, a tecer mantas e pulôveres com supostos poderes mágicos – hábito que passa de geração a geração, mantendo dessa forma os laços clâmicos de um povo que se obstina em não ceder à ação avassaladora da dita “civilização” branca.

Mãe já em segundo grau, uma avó jamais deixa de ser uma mãe legítima, e é por isso que fizemos questão de postar o poema abaixo no dia de hoje, dedicado a todas as mães de Pindorama, pois elas fazem parte do imarcescível espírito criador, qualificadas que estão para a missão de proteger a vida, renovando, assim, a face da terra.

J.A.R. – H.C.

Paula Gunn Allen
(1939-2008)

Grandmother

Out of her own body she pushed
silver thread, light, air
and carried it carefully on the dark, flying
where nothing moved.

Out of her body she extruded
shining wire, life, and wove the light
on the void.

From beyond time,
beyond oak trees and bright clear water flow,
she was given the work of weaving the strands
of her body, her pain, her vision
into creation, and the gift of having created,
to disappear.

After her,
the women and the men weave blankets into tales of life,
memories of light and ladders,
infinity-eyes, and rain.
After her I sit on my laddered rain-bearing rug
and mend the tear with string.

A avó com a pequena Emma
(Emma Ekwall: pintora sueca)

A Avó

Fora do seu próprio corpo, ela apartou
o atilho prateado, a luz, o ar
e os levou cuidadosamente à escuridão, voando
para onde nada se movia.

Fora do seu corpo, removeu
tramas lustrosas, a vida, e teceu a luz
no vazio.

Para além do tempo,
além dos carvalhos e do fluxo de água clara e brilhante,
foi-lhe atribuída a tarefa de tecer os fios
do seu corpo, sua dor, sua visão
para a criação, e a aptidão, por haver criado,
para desaparecer.

Depois dela, as mulheres e os homens tecem mantas
com histórias de vida,
memórias de luz e de malhas,
uma infinidade d’olhos e chuva.
Depois dela, sento-me sobre meu esgarçado tapete
que traz chuva
e remendo o rasgo com um barbante.

Referência:

ALLEN, Paula Gunn. Grandmother. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 355.

Nenhum comentário:

Postar um comentário