Identificada com o povo a que pertencia a sua mãe – o “Laguna Pueblo” –,
a poetisa norte-americana descreve os hábitos de sua avó, a tecer mantas e
pulôveres com supostos poderes mágicos – hábito que passa de geração a geração,
mantendo dessa forma os laços clâmicos de um povo que se obstina em não ceder à
ação avassaladora da dita “civilização” branca.
Mãe já em segundo grau, uma avó jamais deixa de ser uma mãe legítima, e
é por isso que fizemos questão de postar o poema abaixo no dia de hoje,
dedicado a todas as mães de Pindorama, pois elas fazem parte do imarcescível espírito
criador, qualificadas que estão para a missão de proteger a vida, renovando,
assim, a face da terra.
J.A.R. – H.C.
Paula Gunn Allen
(1939-2008)
Grandmother
Out of her own body
she pushed
silver thread, light,
air
and carried it carefully
on the dark, flying
where nothing moved.
Out of her body she
extruded
shining wire, life,
and wove the light
on the void.
From beyond time,
beyond oak trees and
bright clear water flow,
she was given the
work of weaving the strands
of her body, her
pain, her vision
into creation, and
the gift of having created,
to disappear.
After her,
the women and the men
weave blankets into tales of life,
memories of light and
ladders,
infinity-eyes, and
rain.
After her I sit on my
laddered rain-bearing rug
and mend the tear
with string.
A avó com a pequena Emma
(Emma Ekwall: pintora
sueca)
A Avó
Fora do seu próprio
corpo, ela apartou
o atilho prateado, a luz,
o ar
e os levou
cuidadosamente à escuridão, voando
para onde nada se
movia.
Fora do seu corpo, removeu
tramas lustrosas, a
vida, e teceu a luz
no vazio.
Para além do tempo,
além dos carvalhos e
do fluxo de água clara e brilhante,
foi-lhe atribuída a
tarefa de tecer os fios
do seu corpo, sua
dor, sua visão
para a criação, e a
aptidão, por haver criado,
para desaparecer.
Depois dela, as mulheres
e os homens tecem mantas
com histórias de
vida,
memórias de luz e de malhas,
uma infinidade d’olhos
e chuva.
Depois dela, sento-me
sobre meu esgarçado tapete
que traz chuva
e remendo o rasgo com
um barbante.
Referência:
ALLEN, Paula Gunn. Grandmother. In:
DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology
of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p.
355.
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