Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Paul Celan - Salmo

Como o próprio título sugere, este poema é um salmo, uma oração ou uma música noturna de um povo direcionada a alguém que, denominado “Ninguém”, sugere a palavra “Deus”, haja vista as referências a passagens narradas no Gênesis, quando o Eterno teria criado o homem – e a mulher – à sua imagem, a partir do barro da terra, insuflando-lhe nas narinas um hálito de vida.

Pode-se facilmente deduzir que Celan aluda ao povo judeu, cuja fé no Deus Uno muito se abalou durante as agruras da 2GM, mas que não deixou de revelar ao mundo o primado de sua consciência espiritual: entre os espinhos da rosa há a beleza das pétalas rubras, derivadas de um processo de sublimação rumo à transcendência, a afigurar o renascer para uma nova vida.

J.A.R. – H.C.

Paul Celan
(1920-1970)

Psalm

Niemand knetet uns wieder aus Erde und Lehm,
niemand bespricht unseren Staub.
Niemand.

Gelobt seist du, Niemand.
Dir zulieb wollen
wir blühn.
Dir
entgegen.

Ein Nichts
waren wir, sind wir, werden
wir bleiben, blühend:
die Nichts –, die
Niemandsrose.

Mit
dem Griffel seelenhell,
dem Staubfaden himmelswüst,
der Krone rot
vom Purpurwort, das wir sangen
über, o über
dem Dorn.

Sindicato da Guilda dos Tecelões
(Rembrandt: pintor holandês)

Salmo

Ninguém nos molda de novo com terra e barro,
ninguém evoca o nosso pó.
Ninguém.

Louvado sejas, Ninguém.
Por ti queremos
florescer.
Ao teu
encontro.

Um nada
éramos nós, somos, continuaremos
sendo, florescendo:
a rosa-de-nada, a
rosa-de-ninguém.

Com
o estilete claralma,
o estame alto-céu,
a coroa rubra
da palavra púrpura, que cantamos
sobre, oh, sobre
o espinho.

Referência:

CELAN, Paul. Psalm / Salmo. Tradução de Claudia Cavalcanti. In: __________. Cristal. Seleção e tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue. 2. Reimp. São Paulo: Iluminuras, 2011. Em alemão: p. 94; em português: p. 95.

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