Por trás de toda a vulgaridade numa cena de mulheres seminuas, dançando
num cabaré, sempre há um sentido oculto que muitas vezes não é observado pelos
presentes: a infelicidade de algumas dessas mulheres, que ali estão em corpo,
esboçando um falso sorriso, mas, em espírito, encontram-se a quilômetros de
distância, lucubrando sobre cenários alternativos e não tão ordinários.
É disso que McKay, poeta negro norte-americano, trata neste soneto,
quando se detém a analisar o comportamento de uma dançarina no Harlem, um
bairro com presença majoritária de residentes afrodescententes, em Nova Iorque
(EUA): no poema, defende-se a ideia de que se deve procurar por um significado
mais profundo em todas as coisas, em vez de aceitar qualquer estereótipo que se
nos afigure à primeira vista.
J.A.R. – H.C.
Claude McKay
(1889-1948)
The Harlem Dancer
Applauding youths
laughed with young prostitutes
And watched her perfect,
half-clothed body sway;
Her voice was like
the sound of blended flutes
Blown by black
players upon a picnic day.
She sang and danced on
gracefully and calm,
The light gauze
hanging loose about her form;
To me she seemed a
proudly-swaying palm
Grown lovelier for
passing through a storm.
Upon her swarthy neck
black, shiny curls
Profusely fell; and,
tossing coins in praise,
The wine-flushed,
bold-eyed boys, and even the girls,
Devoured her with
their eager, passionate gaze;
But, looking at her
falsely-smiling face
I knew her self was
not in that strange place.
Dança da mulher nua: Gret Palluca
(Ernst L. Kirchner:
pintor alemão)
A Dançarina do Harlem
Rodeados por jovens
messalinas, os rapazes riam, aplaudiam
E observavam o seu
corpo perfeito, meio vestido, balançar;
Sua voz semelhava-se ao
som harmônico de pífanos,
Soprados por flautistas
negros em dia de convescote.
Ela cantava e dançava
com graciosidade e calma,
A leve malha pendendo
solta sobre a sua forma;
Para mim, parecia uma
palmeira altivamente oscilante,
Ainda mais adorável
por subsistir a uma tormenta.
Sobre o seu trigueiro
colo negro, cachos brilhantes
Rolavam profusamente;
e, lançando moedas em ovação,
Os jovens, com os
olhos afoitos e corados pelo vinho, e até as moças,
Devoravam-na com um
olhar ansioso e apaixonado;
Mas, ao observar o
seu rosto falsamente sorridente,
Eu percebia que ela mesma
não estava naquele estranho lugar.
Referência:
McKAY, Claude. The Harlem dancer. In:
DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology
of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p.
93-94.
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