Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 23 de maio de 2020

Claude McKay - A Dançarina do Harlem

Por trás de toda a vulgaridade numa cena de mulheres seminuas, dançando num cabaré, sempre há um sentido oculto que muitas vezes não é observado pelos presentes: a infelicidade de algumas dessas mulheres, que ali estão em corpo, esboçando um falso sorriso, mas, em espírito, encontram-se a quilômetros de distância, lucubrando sobre cenários alternativos e não tão ordinários.

É disso que McKay, poeta negro norte-americano, trata neste soneto, quando se detém a analisar o comportamento de uma dançarina no Harlem, um bairro com presença majoritária de residentes afrodescententes, em Nova Iorque (EUA): no poema, defende-se a ideia de que se deve procurar por um significado mais profundo em todas as coisas, em vez de aceitar qualquer estereótipo que se nos afigure à primeira vista.

J.A.R. – H.C.

Claude McKay
(1889-1948)

The Harlem Dancer

Applauding youths laughed with young prostitutes
And watched her perfect, half-clothed body sway;
Her voice was like the sound of blended flutes
Blown by black players upon a picnic day.
She sang and danced on gracefully and calm,
The light gauze hanging loose about her form;
To me she seemed a proudly-swaying palm
Grown lovelier for passing through a storm.
Upon her swarthy neck black, shiny curls
Profusely fell; and, tossing coins in praise,
The wine-flushed, bold-eyed boys, and even the girls,
Devoured her with their eager, passionate gaze;
But, looking at her falsely-smiling face
I knew her self was not in that strange place.

Dança da mulher nua: Gret Palluca
(Ernst L. Kirchner: pintor alemão)

A Dançarina do Harlem

Rodeados por jovens messalinas, os rapazes riam, aplaudiam
E observavam o seu corpo perfeito, meio vestido, balançar;
Sua voz semelhava-se ao som harmônico de pífanos,
Soprados por flautistas negros em dia de convescote.
Ela cantava e dançava com graciosidade e calma,
A leve malha pendendo solta sobre a sua forma;
Para mim, parecia uma palmeira altivamente oscilante,
Ainda mais adorável por subsistir a uma tormenta.
Sobre o seu trigueiro colo negro, cachos brilhantes
Rolavam profusamente; e, lançando moedas em ovação,
Os jovens, com os olhos afoitos e corados pelo vinho, e até as moças,
Devoravam-na com um olhar ansioso e apaixonado;
Mas, ao observar o seu rosto falsamente sorridente,
Eu percebia que ela mesma não estava naquele estranho lugar.

Referência:

McKAY, Claude. The Harlem dancer. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 93-94.

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