Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 28 de maio de 2020

John Updike - Perfeição Desperdiçada

Sem rima ou métrica, este soneto de Updike rende a sensação de que nos tornamos parte de uma história que, antes, já se desenrolara em outro ato, mais especificamente, a morte de alguém muito querido que, provavelmente, atuava em representações cômicas, incapaz de ser substituído, em seus gracejos, piadas ou chistes, por nenhum outro imitador ou descendente.

Família e amigos são testemunhas de nossos pensamentos e sentimentos, preferências e animosidades, gestos engraçados e hobbies, de modo que se tornam hábeis em entrar em sintonia conosco, conhecendo-nos mais de perto: seríamos a estrela de uma peça que somente cada qual se revela competente para representar – nossas vidas – e, quando finamos, a “magia” que nos envolve se desvanece para sempre.

J.A.R. – H.C.

John Updike
(1932-2009)

Perfection Wasted

And another regrettable thing about death
is the ceasing of your own brand of magic,
which took a whole life to develop and market –
the quips, the witticisms, the slant
adjusted to a few, those loved ones nearest
the lip of the stage, their soft faces blanched
in the footlight glow, their laughter close to tears,
their tears confused with their diamond earrings,
their warm pooled breath in and out with your heartbeat,
their response and your performance twinned.
The jokes over the phone. The memories packed
in the rapid-access file. The whole act.
Who will do it again? That’s it: no one;
imitators and descendants aren’t the same.

A melancolia de Maria Madalena
(Artemisia Gentileschi: pintora italiana)

Perfeição Desperdiçada

E outra coisa intolerável sobre a morte
é a cessação de tua própria marca de magia,
que levou uma vida inteira para se desenvolver
e fixar-se no mercado –
os gracejos, os chistes, as pertinentes
mesuras para alguns, aqueles entes queridos
mais próximos
ao cenário, os rostos suaves clareados pelo esplendor
dos refletores, os risos apensos às lágrimas,
as lágrimas confundidas com seus brincos de diamantes,
a cálida respiração sincronizada ao ritmo das batidas
do teu coração,
a resposta deles e tua performance irmanadas.
As piadas pelo telefone. As memórias compactadas
no arquivo de acesso rápido. O ato por inteiro.
Quem o representará de novo? Isso mesmo: ninguém;
imitadores e descendentes não são a mesma coisa.

Referência:

UPDIKE, John. Perfection wasted. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 402.

Um comentário:

  1. Boa tarde tudo bem? Sou brasileiro, carioca e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos.

    https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1

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