Sem rima ou métrica, este soneto de Updike rende a sensação de que nos
tornamos parte de uma história que, antes, já se desenrolara em outro ato, mais
especificamente, a morte de alguém muito querido que, provavelmente, atuava em
representações cômicas, incapaz de ser substituído, em seus gracejos, piadas ou
chistes, por nenhum outro imitador ou descendente.
Família e amigos são testemunhas de nossos pensamentos e sentimentos,
preferências e animosidades, gestos engraçados e hobbies, de modo que se tornam
hábeis em entrar em sintonia conosco, conhecendo-nos mais de perto: seríamos a
estrela de uma peça que somente cada qual se revela competente para representar
– nossas vidas – e, quando finamos, a “magia” que nos envolve se desvanece para
sempre.
J.A.R. – H.C.
John Updike
(1932-2009)
Perfection Wasted
And another
regrettable thing about death
is the ceasing of
your own brand of magic,
which took a whole
life to develop and market –
the quips, the
witticisms, the slant
adjusted to a few,
those loved ones nearest
the lip of the stage,
their soft faces blanched
in the footlight
glow, their laughter close to tears,
their tears confused
with their diamond earrings,
their warm pooled
breath in and out with your heartbeat,
their response and
your performance twinned.
The jokes over the
phone. The memories packed
in the rapid-access
file. The whole act.
Who will do it again?
That’s it: no one;
imitators and
descendants aren’t the same.
A melancolia de Maria Madalena
(Artemisia
Gentileschi: pintora italiana)
Perfeição Desperdiçada
E outra coisa intolerável
sobre a morte
é a cessação de tua
própria marca de magia,
que levou uma vida
inteira para se desenvolver
e fixar-se no mercado
–
os gracejos, os
chistes, as pertinentes
mesuras para alguns,
aqueles entes queridos
mais próximos
ao cenário, os rostos
suaves clareados pelo esplendor
dos refletores, os
risos apensos às lágrimas,
as lágrimas
confundidas com seus brincos de diamantes,
a cálida respiração sincronizada
ao ritmo das batidas
do teu coração,
a resposta deles e
tua performance irmanadas.
As piadas pelo
telefone. As memórias compactadas
no arquivo de acesso
rápido. O ato por inteiro.
Quem o representará
de novo? Isso mesmo: ninguém;
imitadores e
descendentes não são a mesma coisa.
Referência:
UPDIKE, John. Perfection wasted. In:
KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 402.
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