Corso aqui propõe quase um programa de como se deve elaborar as construções
poéticas, ou melhor, como ele concebe o que deve ou não ser objeto do poema, e de que forma lançar mão das melhores palavras para produzir efeitos capazes de percutir
na mente do leitor e perdurar no tempo, sem oferecer margem ao derrame de
linhas com uma imagística banal ou de gosto duvidoso.
Propõe ele que se deva “alongar” as palavras e, desse modo, pode-se
conjecturar que esteja a dizer que o autor deve enriquecer o seu vocabulário,
ouvindo atentamente o que as outras pessoas dizem e como elas empregam os
vocábulos. Pois, sem criatividade e insuficiência de dicção, melhor seria desistir
da empreitada, mantendo-se em silêncio, tornando-se hábil em ouvir o que os
mais talentosos têm a dizer.
J.A.R. – H.C.
Gregory Corso
(1930-2001)
No word
It is better man a
word elongate
and eat up what
another spake
for no man is word
enough
who complains, to
boot,
the word he ate was
tasteless tough
It is better man give
his diction
become mouthless
It is better
than another man,
myself,
heed his restriction
I Know no word that
is mine
and I am tired of
this
It is better to sew
his mouth
dynamite his ears
hearless
drown his vocabulary
It is better
his eyes speak and
listen as well as see
A biblioteca
(Jacob Lawrence:
pintor norte-americano)
Sem essa palavra
É melhor homem soltar
longas palavras
e engolir as que um
outro fala
pois não é digno
homem de palavra
quem ainda por cima
reclama
que aquelas que comeu
não tinham sal
É melhor homem deixar
a fala
e não ter boca
é melhor que alguém,
eu mesmo,
repare em sua falta
Não é meu vocábulo
e já estou cheio dos
seus.
É melhor costurar-lhe
os lábios
cortar as suas
orelhas sem ouvidos
queimar o seu
dicionário
É melhor
que os seus olhos
ouçam e falem além disso.
(Folhetim, 13.02.83)
Referências:
Em Inglês
CORSO, Gregory. No word. In:
__________. Gasoline. San Francisco,
CA: City Light Books, 1958. p. 47.
Em Português
CORSO, Gregory. Sem essa palavra.
Tradução de Décio Pignatari. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson
(Organizadores). Folhetim: poemas
traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 52.
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