Nascido também em Portugal, Paixão se reporta aos longos versos
decassílabos encontráveis em poemas do poeta lusitano Mário de Sá-Carneiro, padrão
de métrica que, por aqui, foi satirizado por Ronald de Carvalho (1893-1935)
como “tardos elefantes, movendo a tromba, sob o vivo clarão dos poentes
purpurinos”. Para ser exato e não faltar com a verdade, Carvalho mais se dirige
aos versos alexandrinos, com doze sílabas poéticas.
Sobre o fascínio pela morte, não há muito mais a ser
dito: Sá-Carneiro suicidou-se ao 26 anos incompletos, em 26.4.1916, no Hotel de
Nice, em Paris, França. Quanto à tendência de experimentar um ser multifário,
não se há de esquecer que Sá-Carneiro teve como um de seus diletos amigos o
também poeta – e que poeta! – Fernando Pessoa (1888-1935), a figura prototípica
do ser heteronímico.
J.A.R. – H.C.
Fernando Paixão
(n. 1955)
Febre de decassílabos em
queda...
Nervos versos
estiram-me o corpo além
da carne exata.
Cavalo enaltecido em rodopios
sou vício de entranhas
verrumante aspereza do desejo.
Ah, morrer... como me
fascinas...
Por teus carrosséis de luz
Sou dois: outro a ser em mim
a dor de não ser eu.
Em: “25 azulejos” (1994)
Mário de Sá-Carneiro
(1890-1916)
Referência:
PAIXÃO, Fernando. Sá-Carneiro. In: ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São
Paulo, SP: Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 136.
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