A Hungria sempre foi pródiga em grandes autores – escritores e poetas. Aqui
no Brasil veio a aportar uma grande figura humana oriunda de lá, o crítico e
tradutor Paulo Rónai (1907-1992), cotradutor, juntamente com Aurélio Buarque de
Holanda, da série de contos da literatura universal “Mar de Histórias”, em dez
volumes, publicada pela editora Nova Fronteira.
Noutra mirada, no plano da poesia, Csoóri, no poema abaixo – cuja versão
ao português busca se aproximar do original em húngaro (“A Mestereim”) –, deplora o fato de que
a paisagem literária de seu país tenha se tornado decadente e impura, logo ela
que lhe trouxera momentos da mais pura epifania, com os seus “loucos, poetas, santos
alcoólicos”, agora meio distantes e quase incapazes de influenciar
positivamente as gerações mais jovens.
J.A.R. – H.C.
Sándor Csoóri
(1930-2016)
My Masters
Where, where are my
masters?
In the past they’d
appear without being summoned.
They’d come before
the first peal of the bells,
across barren yards:
madmen, poets,
alcoholic saints;
they’d come from the night’s marshes,
holding Hungary’s
broken peony in their hands.
One of them would
come with a flood,
another from between
clattering tracks,
another limping, with
the white frost of on his back.
And I always read the
words
from their motionless
lips.
Where might they
linger now? Where might
they be kept waiting?
With whom do they
share their deaths,
the way prisoners of
war share a lone potato?
As though they are
ashamed
of this fouled
landscape that’s sunk into itself,
and their dirtied
mission.
(Translated from Hungarian to English
by Lee Roberts)
O Violinista
(Marc Chagall: pintor
russo-francês)
Meus Mestres
Estão onde, onde os
meus mestres?
De quando em vez apareciam
sem ser chamados.
Vinham antes do
primeiro repique dos sinos,
através de pátios
desertos: loucos, poetas,
santos alcoólatras;
vinham dos pântanos da noite,
com as peônias da
Hungria repartidas em suas mãos.
Houve quem viesse com
uma enchente,
Houve quem retinisse
um par de trilhos,
Houve quem mancasse, com
a geada de Bakony aos ombros. (*)
E eu sempre leio a
mensagem
de suas bocas
impassíveis.
Onde agora passam o
tempo? Em que páramos?
Com quem compartilham
suas mortes,
como prisioneiros de
guerra a dividir uma simples batata?
Como se tivessem
vergonha
desta paisagem impura
e em declínio,
e sua impura missão.
Nota:
(*) Bakony é uma região montanhosa na
Transdanúbia, Hungria, e que, em grande parte do ano, fica exposta a baixas
temperaturas.
Referência:
CSOÓRI, Sándor. My masters. Translated
from Hungarian to English by Lee Roberts. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary world
poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House
Inc.), june 1996. p. 166-167.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário