Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Sándor Csoóri - Meus Mestres

A Hungria sempre foi pródiga em grandes autores – escritores e poetas. Aqui no Brasil veio a aportar uma grande figura humana oriunda de lá, o crítico e tradutor Paulo Rónai (1907-1992), cotradutor, juntamente com Aurélio Buarque de Holanda, da série de contos da literatura universal “Mar de Histórias”, em dez volumes, publicada pela editora Nova Fronteira.

Noutra mirada, no plano da poesia, Csoóri, no poema abaixo – cuja versão ao português busca se aproximar do original em húngaro (“A Mestereim”) –, deplora o fato de que a paisagem literária de seu país tenha se tornado decadente e impura, logo ela que lhe trouxera momentos da mais pura epifania, com os seus “loucos, poetas, santos alcoólicos”, agora meio distantes e quase incapazes de influenciar positivamente as gerações mais jovens.

J.A.R. – H.C.

Sándor Csoóri
 (1930-2016)

My Masters

Where, where are my masters?
In the past they’d appear without being summoned.
They’d come before the first peal of the bells,
across barren yards: madmen, poets,
alcoholic saints; they’d come from the night’s marshes,
holding Hungary’s broken peony in their hands.

One of them would come with a flood,
another from between clattering tracks,
another limping, with the white frost of on his back.

And I always read the words
from their motionless lips.
Where might they linger now? Where might
they be kept waiting?
With whom do they share their deaths,
the way prisoners of war share a lone potato?
As though they are ashamed
of this fouled landscape that’s sunk into itself,
and their dirtied mission.

(Translated from Hungarian to English by Lee Roberts)

O Violinista
(Marc Chagall: pintor russo-francês)

Meus Mestres

Estão onde, onde os meus mestres?
De quando em vez apareciam sem ser chamados.
Vinham antes do primeiro repique dos sinos,
através de pátios desertos: loucos, poetas,
santos alcoólatras; vinham dos pântanos da noite,
com as peônias da Hungria repartidas em suas mãos.

Houve quem viesse com uma enchente,
Houve quem retinisse um par de trilhos,
Houve quem mancasse, com a geada de Bakony aos ombros. (*)

E eu sempre leio a mensagem
de suas bocas impassíveis.
Onde agora passam o tempo? Em que páramos?
Com quem compartilham suas mortes,
como prisioneiros de guerra a dividir uma simples batata?
Como se tivessem vergonha
desta paisagem impura e em declínio,
e sua impura missão.

Nota:

(*) Bakony é uma região montanhosa na Transdanúbia, Hungria, e que, em grande parte do ano, fica exposta a baixas temperaturas.

Referência:

CSOÓRI, Sándor. My masters. Translated from Hungarian to English by Lee Roberts. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary world poetry. 1st. ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), june 1996. p. 166-167.

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