Updike refere-se, neste poema, à ação de capinar, sachar, mondar, com a
qual os garotos mais jovens, acostumados ao ambiente citadino, criados em
apartamentos, jamais tiveram contato ou, talvez, jamais terão, tanto mais que
muitos deles julgam que o trabalho manual tem algo de desqualificável:
preferem, como na metáfora criada pelo apresentador Jô Soares, “capinar sentado”,
para não verem o suor escorrer-lhes pela face.
Nos dias que correm, de qualquer maneira, a agricultura familiar –
bastante presente lá pela metade do século passado –, foi sumariamente
esquecida, entregando os pontos à agroindústria, que passou a dispor em nossas
mesas todos os produtos agrícolas de que necessitamos. Mas é claro: nem sempre
de forma saudável, em razão do uso disseminado de agrotóxicos.
J.A.R. – H.C.
John Updike
(1932-2009)
Hoeing
I sometimes fear the
younger generation will be deprived
of the pleasures of
hoeing;
there is no knowing
how many souls have
been formed by this simple exercise.
The dry earth like a
great scab breaks, revealing
moist-dark loam –
the pea-root’s home,
a fertile wound
perpetually healing.
How neatly the green
weeds go under!
The blade chops the
earth new.
Ignorant the wise boy
who
has never performed
this simple, stupid, and useful wonder.
Mondagem
(Maggie Laubser:
pintora sul-africana)
Mondagem
Às vezes temo que a
geração mais jovem se veja privada
dos prazeres da mondagem;
não há como saber
quantas almas se
formaram com este simples exercício.
A terra seca se rompe
como uma grande crosta, revelando
a marga úmida e
escura –
o lar da raiz da ervilheira,
uma ferida fértil que
cicatriza perpetuamente.
Quão ordenadamente tombam
as verdes ervas daninhas.
A lâmina revolve a
terra intocada.
Indouto o sábio moço
que
jamais realizou essa
maravilha simples, primitiva e útil.
Referência:
UPDIKE, John. Hoeing. In: KEILLOR, Garrison
(Selector and Introducer). Good poems.
New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 150.
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