Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Paul Verlaine - Esboço Parisiense

Numa certa noite, vazada pelo vento norte, tendo Paris por cenário, o ente lírico – não erraríamos se disséssemos que é o próprio poeta francês – observa o céu cinzento e o luar sobre os telhados, de onde saíam negras e espessas fumaças, provavelmente originadas por caldeiras de aquecimento ou por lareiras. Entrementes, ao longe, ele escuta um bichano friorento e discreto a miar aguda e estranhamente.

Mas na mente do poeta o que se passava era um sonho de Grécia Antiga, sob o esplendor da filosofia de Platão e das esculturas estupendas de Fídias, das batalhas de Salamina e de Maratona – em suma, o Século de Péricles esplendoroso para os helenos –, tudo isso à luz da chama azul de um candeeiro à gás. Ao final, o poeta reduziu a termo tal experiência, neste belo poema.

Alerta: a dedicatória a outro poeta francês, François Coppée, não se encontra aposta, no original em referência, apenas ao infratranscrito poema, senão à seção inteira de “Eaux-fortes” (“Águas-fortes”) – termo que, como se observa, denota um paralelo pictórico àquilo que, de outra forma, se expressa por meio de palavras.

J.A.R. – H.C.

Paul Verlaine
(1844-1896)

Croquis Parisien

A François Coppée

La lune plaquait ses teintes de zinc
Par angles obtus.
Des bouts de fumée en forme de cinq
Sortaient drus et noirs des hauts toits pointus.

Le ciel était gris. La bise pleurait
Ainsi qu’un basson.
Au loin, un matou frileux et discret
Miaulait d’étrange et grêle façon.

Moi, j’allais, rêvant du divin Platon
Et de Phidias,
Et de Salamine et de Marathon,
Sous l’oeil clignotant des bleus becs de gaz.

Section “Eaux-fortes”
dans “Poèmes saturniens” (1902)

Os Campos Elíseos: Paris
(Georges Stein: pintor francês)

Esboço Parisiense

A François Coppée

Estendia o luar suas chapas de zinco
De ângulos obtusos,
Pontas de fumaça em forma de cinco
Vinham do negror dos tetos quais fusos.

O céu era cinza. E chorava a brisa
Tal como um fagote.
Miava de frio a voz indecisa
E trêmula e estranha, além, de um filhote.

Eu sonhava com Platão, ó divina,
Com Fídias, com as
Batalhas cruéis, como em Salamina
E em Maratona, ao lampião de gás.

Seção “Águas-fortes”
em “Poemas Saturnianos” (1902)

Referências:

Em Francês

VERLAINE, Paul. Croquis parisien. Disponível neste endereço. Acesso em: 6 abr. 2020.

Em Português

VERLAINE, Paul. Esboço parisiense. Tradução de Jamil Almansur Haddad. In: __________. Passeio sentimental (poemas). Seleção, tradução, prefácio e notas de Jamil Almansur Haddad. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1989. p. 43.

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