Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 19 de maio de 2020

Pier Paolo Pasolini - Aos Escritores Contemporâneos

Neste epigramático poema, Pasolini nos dá ciência de que, à época em que viveu, havia mais diferenças entre os literatos – suponho que, sobretudo, no âmbito das ideias políticas que defendiam – do que poderia imaginar a “nossa vã filosofia”. Dadas as circunstâncias de momento em Pindorama, diria que em outra época e lugar, persistem tais diferenças – e não só entre os literatos, como entre os músicos e os artistas, bastando ver as distinções de comportamento, mormente em relação ao estado de consciência da situação precária do povo brasileiro, entre o cantor e compositor Chico Buarque e a atriz Regina Duarte!

Segundo Pasolini, tais discordâncias entre os escritores configurariam cenário de uma autêntica “Waste Land” (“Terra Desolada”) – dessa forma a fazer explícita associação ao célebre poema de T. S. Eliot (1888-1956), considerado por muitos críticos como um dos melhores poemas – senão o melhor – do século XX, ao redor do mundo.

J.A.R. – H.C.

Pier Paolo Pasolini
(1922-1975)

Ai letterati contemporanei

Vi vedo: esistete, continuiamo a essere amici,
felici di vederci e salutarci, in qualche caffè,
nelle case delle ironiche signore romane…
Ma i nostri saluti, i sorrisi, le comuni passioni,
sono atti di una terra di nessuno: una… waste land,
per voi: un margine, per me, tra una storia e l’altra.
Non possiamo più realmente essere d’accordo: ne tremo,
ma è in noi che il mondo è nemico al mondo.

De “La religione de mio tempo” (1961)

Retrato do Escritor Maxim Gorky
(Valentin Serov: pintor russo)

Aos escritores contemporâneos

Vejo: vocês existem, continuamos sendo amigos,
felizes de nos vermos e cumprimentarmos em algum café,
nas casas das irônicas senhoras romanas…
Mas nossos cumprimentos, os sorrisos, as paixões comuns
são atos de uma terra de ninguém: uma… waste land,
para vocês: para mim, uma margem, entre uma história e a outra.
Já não podemos realmente estar de acordo: estremeço,
mas é em nós que o mundo é inimigo do mundo.

De “A religião de meu tempo” (1961)

Referência:

PASOLINI, Pier Paolo. Ai letterati contemporanei / Aos escritores contemporâneos. Tradução de Maurício Santana Dias. In: __________. Poemas. Organização e introdução de Alfonso Berardinelli e Maurício Santana Dias. Tradução e notas de Maurício Santana Dias. Posfácio de Maria Betânia Amoroso. Edição bilíngue. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2015. Em italiano: p. 142; em português: p. 143.

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