Tudo é lembrança no olhar que repousa sobre a árvore de Natal, no
presente caso, do poeta a rememorar os momentos em que se sentia cativo na
mirada de sua amada. Ou mesmo da época de criança a suscitar enlevos de “coisas
antigas e serenas”, enchendo-lhe o espírito de “boa melancolia”.
É o retrato de uma letargia que submete o ânimo de boa parcela de
pessoas, para quem o passado ainda é presente, à espera de que os bons momentos
vividos possam ser novamente usufruídos, afastando o efeito embranquecedor das
“neves da memória”.
Bandeira Tribuzi
(1927-1977)
Charge de Wilson Dias
(Caju)
Ano Novo
Uma suave espada de
lembranças
cinde o passado do
presente. Resta
de tudo alva doçura
que se alcança
quando a lágrima
escorre e o olhar amansa
esta triste alegria
que nos resta.
(Lembrar, senhora
minha,
que teu outrora
esquivo
sentimento, é cativo
dessa mágoa que eu
tinha
em meu olhar cativo!)
Na árvore de Natal,
imaginadas,
caem as neves da
memória, finas.
No coração tomba uma
luz cansada
e a noite que vai
sendo madrugada
me banha de boa
melancolia.
(Lembrar, ó doce
amiga,
o sorriso passado
que me é como uma
espiga
a nutrir a fadiga
do coração pesado!)
Suave espada da
lembrança
cinde o passado e
suas penas
da recém-nascida
esperança,
e revive em mim a
criança
das antigas coisas
serenas.
(Pudesse eu enfeitar
a canção incompleta,
faria em teu olhar
a árvore de Natal
da alegria perfeita!)
Manhã de Natal
(Thomas Falcon
Marshall: pintor inglês)
Referência:
TRIBUZI, Bandeira. Ano novo. In:
__________. Poesias completas.
Prefácio de Josué Montello. Rio de Janeiro, RJ: Livraria Editora Cátedra;
Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro, 1979. p. 261-262
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