Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

Bandeira Tribuzi - Ano Novo

Tudo é lembrança no olhar que repousa sobre a árvore de Natal, no presente caso, do poeta a rememorar os momentos em que se sentia cativo na mirada de sua amada. Ou mesmo da época de criança a suscitar enlevos de “coisas antigas e serenas”, enchendo-lhe o espírito de “boa melancolia”.

É o retrato de uma letargia que submete o ânimo de boa parcela de pessoas, para quem o passado ainda é presente, à espera de que os bons momentos vividos possam ser novamente usufruídos, afastando o efeito embranquecedor das “neves da memória”.

J.A.R. – H.C.

Bandeira Tribuzi
(1927-1977)
Charge de Wilson Dias (Caju)

Ano Novo

Uma suave espada de lembranças
cinde o passado do presente. Resta
de tudo alva doçura que se alcança
quando a lágrima escorre e o olhar amansa
esta triste alegria que nos resta.

(Lembrar, senhora minha,
que teu outrora esquivo
sentimento, é cativo
dessa mágoa que eu tinha
em meu olhar cativo!)

Na árvore de Natal, imaginadas,
caem as neves da memória, finas.
No coração tomba uma luz cansada
e a noite que vai sendo madrugada
me banha de boa melancolia.

(Lembrar, ó doce amiga,
o sorriso passado
que me é como uma espiga
a nutrir a fadiga
do coração pesado!)

Suave espada da lembrança
cinde o passado e suas penas
da recém-nascida esperança,
e revive em mim a criança
das antigas coisas serenas.

(Pudesse eu enfeitar
a canção incompleta,
faria em teu olhar
a árvore de Natal
da alegria perfeita!)

Manhã de Natal
(Thomas Falcon Marshall: pintor inglês)

Referência:

TRIBUZI, Bandeira. Ano novo. In: __________. Poesias completas. Prefácio de Josué Montello. Rio de Janeiro, RJ: Livraria Editora Cátedra; Brasília, DF: Instituto Nacional do Livro, 1979. p. 261-262

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