Um poema que se prende às evidências de um dia de ano novo com neve e
frio, vai até as alturas – pois há menção à estrela de Arcturus –, mas que
depois retorna ao lar da poetisa, para que esta possa manifestar o prazer de
ter um lugar ameno e habitável, espelhando em silêncio os efeitos da luz sobre
a neve e o novo ano.
A vida se passa em ciclos, e tudo fenece para depois renascer em outros
entes sencientes – humanos ou pássaros, como os mencionados por Avison –, dando
continuidade a tudo o que nos cerca. E há quem não seja grato por cada momento
que nos é posto à disposição para usufruirmos! “Carpe diem”, diriam os romanos!
J.A.R. – H.C.
Margaret Avison
(1918-2007)
New Year’s Poem
The Christmas twigs
crispen and needles rattle
Along the windowledge.
A solitary pearl
Shed from the
necklace spilled at last week’s party
Lies in the suety,
snow-luminous plainness
Of morning, on the
windowledge beside them.
And all the fumiture
that circled stately
And hospitable when
these rooms were brimmed
With perfumes, furs,
and black-and-silver
Crisscross of
seasonal conversation, lapses
Into its previous
largeness.
I remember
Anne’s rose-sweet
gravity, and the stiff grave
Where cold so little
can contain;
I mark the queer delightful
skull and crossbones
Starlings and
sparrows left, taking the crust,
And the long loop of
winter wind
Smoothing its arc from
dark Arcturus down
To the bricked corner
of the drifted courtyard,
And the still
windowledge.
Gentle and just
pleasure
It is, being human,
to have won from space
This unchill,
habitable interior
Which mirrors quietly
the light
Of the snow, and the
new year.
Paisagem de Inverno
(Caspar David
Friedrich: pintor alemão)
Poema de Ano Novo
Os abetos de Natal se
crispam e suas agulhas tilintam
Ao longo da borda da
janela.
Uma solitária pérola
Entornada do colar desprendido
na festa da semana passada
Repousa na pura e
luminosa claridade
Da manhã, sobre a
borda da janela, ao lado delas.
E toda a mobília majestosa
E hospitaleira ao
redor, quando estas salas estavam inundadas
De perfumes, peles,
preto e prata,
entrecortadas por
conversas da estação, declina
Em sua anterior
grandeza.
Recordo-me
Da sobriedade suave e
aprazível de Anne, e a tumba rígida
Onde o frio tão pouco
é capaz de preservar;
Observo o estranho e encantador
crânio e os ossos cruzados
Que estorninhos e
pardais deixaram, ao apanhar as crostas,
E o longo giro do
vento de inverno
Suavizando o seu arco
desde a sombria Arcturus
Até o canto
entijolado do pátio ao acaso,
E a quieta borda da
janela.
Suave e justo prazer
É, sendo humano, ter
conquistado do espaço
Este interior ameno e
habitável,
A refletir em
silêncio a luz
Da neve e o ano novo.
Referência:
AVISON, Margaret. New year’s poem. In:
__________. Winter sun and other poems.
Toronto, CA: University of Toronto Press, 1961. p. 29.
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