Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

Margaret Avison - Poema de Ano Novo

Um poema que se prende às evidências de um dia de ano novo com neve e frio, vai até as alturas – pois há menção à estrela de Arcturus –, mas que depois retorna ao lar da poetisa, para que esta possa manifestar o prazer de ter um lugar ameno e habitável, espelhando em silêncio os efeitos da luz sobre a neve e o novo ano.

A vida se passa em ciclos, e tudo fenece para depois renascer em outros entes sencientes – humanos ou pássaros, como os mencionados por Avison –, dando continuidade a tudo o que nos cerca. E há quem não seja grato por cada momento que nos é posto à disposição para usufruirmos! “Carpe diem”, diriam os romanos!

J.A.R. – H.C.

Margaret Avison
(1918-2007)

New Year’s Poem

The Christmas twigs crispen and needles rattle
Along the windowledge.
A solitary pearl
Shed from the necklace spilled at last week’s party
Lies in the suety, snow-luminous plainness
Of morning, on the windowledge beside them.
And all the fumiture that circled stately
And hospitable when these rooms were brimmed
With perfumes, furs, and black-and-silver
Crisscross of seasonal conversation, lapses
Into its previous largeness.
I remember
Anne’s rose-sweet gravity, and the stiff grave
Where cold so little can contain;
I mark the queer delightful skull and crossbones
Starlings and sparrows left, taking the crust,
And the long loop of winter wind
Smoothing its arc from dark Arcturus down
To the bricked corner of the drifted courtyard,
And the still windowledge.
Gentle and just pleasure
It is, being human, to have won from space
This unchill, habitable interior
Which mirrors quietly the light
Of the snow, and the new year.

Paisagem de Inverno
(Caspar David Friedrich: pintor alemão)

Poema de Ano Novo

Os abetos de Natal se crispam e suas agulhas tilintam
Ao longo da borda da janela.
Uma solitária pérola
Entornada do colar desprendido na festa da semana passada
Repousa na pura e luminosa claridade
Da manhã, sobre a borda da janela, ao lado delas.
E toda a mobília majestosa
E hospitaleira ao redor, quando estas salas estavam inundadas
De perfumes, peles, preto e prata,
entrecortadas por conversas da estação, declina
Em sua anterior grandeza.
Recordo-me
Da sobriedade suave e aprazível de Anne, e a tumba rígida
Onde o frio tão pouco é capaz de preservar;
Observo o estranho e encantador crânio e os ossos cruzados
Que estorninhos e pardais deixaram, ao apanhar as crostas,
E o longo giro do vento de inverno
Suavizando o seu arco desde a sombria Arcturus
Até o canto entijolado do pátio ao acaso,
E a quieta borda da janela.
Suave e justo prazer
É, sendo humano, ter conquistado do espaço
Este interior ameno e habitável,
A refletir em silêncio a luz
Da neve e o ano novo.

Referência:

AVISON, Margaret. New year’s poem. In: __________. Winter sun and other poems. Toronto, CA: University of Toronto Press, 1961. p. 29.

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