O tema deste poema de Szymborska diz respeito às emoções causadas pelas
peças sob a forma de tragédia no teatro: segundo a poetisa, o sexto é o mais
importante de seus atos, num tom, claro, de fino humor, pois a elaboração das
tragédias, pelo menos em sua forma convencional, pressupõe a existência de
cinco deles.
O sexto ato, portanto, é tudo o que ocorre no palco depois de terminada
a peça, quando todos os atores que a representam retornam ao cenário para a
saudação pela plateia: a imagem que então se cria é a dos atores despojados de
seus papéis, retornando à condição de pessoas comuns do povo, mais facilmente
identificáveis – e vivas novamente, se, no curso da história, vieram a falecer.
J.A.R. – H.C.
Wisława Szymborska
(1923-2012)
Wrażenia z teatru
Najważniejszy w tragedii jest dla mnie akt szósty:
zmartwychwstanie z
pobojowisk sceny,
poprawianie peruk,
szatek,
wyrywanie noża z piersi,
zdejmowanie pętli z szyi,
ustawianie się w rzędzie pomiędzy żywymi
twarzą do publiczności.
Ukłony pojedyncze i
zbiorowe:
biała dłoń na ranie serca,
dyganie samobójczyni,
kiwanie ściętej głowy.
Ukłony parzyste:
wściekłość podaje ramię łagodności,
ofiara patrzy błogo w
oczy kata,
buntownik bez urazy
stąpa przy boku tyrana.
Deptanie wieczności noskiem złotego trzewiczka.
Rozpędzanie morałów rondem kapelusza.
Niepoprawna gotowość rozpoczęcia od jutra na nowo.
Wejście gęsiego zmarłych dużo wcześniej,
bo w akcie trzecim,
czwartym, oraz pomiędzy aktami.
Cudowny powrót
zaginionych bez wieści.
Myśl, że za kulisami czekali cierpliwie,
nie zdejmując kostiumu,
nie zmywając szminki,
wzrusza mnie bardziej
niż tyrady tragedii.
Ale naprawdę podniosłe jest opadanie kurtyny
i to, co widać
jeszcze w niskiej szparze:
tu oto jedna ręka po kwiat śpiesznie sięga,
tam druga chwyta
upuszczony miecz.
Dopiero wtedy
trzecia, niewidzialna,
spełnia swoją powinność:
ściska mnie za gardło.
No Teatro
(Federico
Zandomeneghi: pintor italiano)
Impressões do Teatro
Para mim, o mais importante na tragédia é o sexto ato:
o ressuscitar dos mortos das cenas de batalha,
o ajeitar das perucas e dos trajes,
a faca arrancada do peito,
a corda tirada do pescoço,
o perfilar-se entre os vivos
de frente para o público.
As reverências individuais e coletivas:
a mão pálida sobre o peito ferido,
as mesuras da suicida,
o acenar da cabeça cortada.
As reverências em pares:
a fúria dá o braço à brandura,
a vítima lança um olhar doce ao carrasco,
o rebelde caminha sem rancor ao lado do tirano.
O pisar na eternidade com a ponta da botina dourada.
A moral varrida com a aba do chapéu.
A incorrigível disposição de amanhã começar de novo.
A entrada em fileira dos que morreram muito antes,
nos atos três e quatro, ou nos entreatos.
A volta milagrosa dos que sumiram sem vestígios.
Pensar que, pacientes, esperavam nos bastidores
sem tirar os trajes,
sem remover a maquiagem,
me comove mais que as tiradas da tragédia.
Mas o mais sublime é o baixar da cortina
e o que ainda se avista pela fresta:
aqui uma mão se estende para pegar as flores,
acolá outra apanha a espada caída.
Por fim uma terceira mão, invisível,
cumpre o seu dever:
me aperta a garganta.
Referência:
SZYMBORSKA, Wisława. Wrażenia z teatru / Impressões do
teatro. Tradução de Regina Przybycien. In: __________. Poemas. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien. Edição
Bilíngue. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. Em polonês: 123-124; em
português: p. 44-45.
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