Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Boris Pasternak - Poema

Eis o tema da criatividade exposto pelo ente lírico mediante uma lembrança dos anos em que teve de se decidir sobre um desempenho de estreia: o poeta, enquanto artesão da palavra, cotejado a um artista neófito que adentra o palco pela primeira vez, como se um ator fosse, mas ainda sob a influência de pensamentos imaturos acerca da essência do teatro (ou, de outro lado, da arte poética).

Mas não nos enganemos: o futuro é o principal assunto da reflexão de Pasternak. E já agora o artista se encontra numa autêntica arena de abate, assim como no Coliseu de Roma (e se não houver a plateia a exigir sua morte!). Moral do enredo: não há complacência no poeta capaz de criar uma poesia de qualidade, pois o vate se torna um escravo apto a morrer pela verdade!

J.A.R. – H.C.

Boris Pasternak
(1890-1960)

О, знал бы я, что так бывает...

О, знал бы я, что так бывает,
Когда пускался на дебют,
Что строчки с кровьюубивают,
Нахлынут горлом и убьют!

От шуток с этой подоплёкой
Я б отказался наотрез.
Начало было так далёко,
Так робок первый интерес.

Но старостьэто Рим, который
Взамен турусов и колёс
Не читки требует с актёра,
А полной гибели всерьёз.

Когда строку диктует чувство,
Оно на сцену шлёт раба,
И тут кончается искусство,
И дышат почва и судьба.

(1932)

Interior do Coliseu de Roma
(Cole Thomas: pintor angloamericano)

Poema

Ah, se eu antes soubera desta sina,
Quando me preparava para a estreia,
Que há morte nestas linhas, – assassinas!
Como um golpe de sangue na traqueia.

Os folguedos desta busca de avessos
Eu deixaria, inúteis, de uma vez.
Já tão remoto o esforço do começo,
Tão temeroso o primeiro interesse.

Mas a velhice é Roma. Não lhe peça
Que venha com estórias de ninar.
Ela exige do ator mais que uma peça,
Uma entrega total, um naufragar.

Quando o verso é um ditado do mais íntimo,
Ele imola um escravo em cena aberta.
E aqui termina a arte, o pano fecha,
Ao respirar da terra e do destino.

(Folhetim, 09.05.82)

Referências:

Em Russo

ПАСТЕРНАК, Борис. О, знал бы я, что так бывает... Disponível neste endereço. Acesso: 8 jan. 2020.

Em Português

PASTERNAK, Boris. Poema. Tradução de Boris Schnaiderman e Haroldo de Campos. In: SUZUKI JR., Matinas; ASCHER, Nelson (Organizadores). Folhetim: poemas traduzidos. São Paulo, SP: Folha de São Paulo, 1987. p. 190.

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