Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Pier Paolo Pasolini - Súplica à Minha Mãe

Neste poema pungente, a imagem capturada por Pasolini de sua mãe é angustiante, de um amor insubstituível que o condena à solidão, ele que, sendo invertido, apela para o corpo de outros homens, embora reconheça que, neles, não há qualquer “anima”, senão apenas em sua genitora, de quem jamais fora capaz de se libertar dos grilhões.

Nada obstante, ele lhe dirige uma súplica para que não deseje a morte, com o propósito de que ambos possam ainda experimentar uma outra primavera, reinício de vida após um tempo de sentimentos profundos e hibernados, de afloramento da mais pura poesia que um recanto de rosas é capaz de suscitar.

J.A.R. – H.C.

Pier Paolo Pasolini
(1922-1975)

Supplica a Mia Madre

È difficile dire con parole di figlio
ciò a cui nel cuore ben poco assomiglio.

Tu sei la sola al mondo che sa, del mio cuore,
ciò che è stato sempre, prima d’ogni altro amore.

Per questo devo dirti ciò ch’è orrendo consocere:
è dentro la tua grazia che nasce la mia angoscia

Sei insostitubile. Per questo è dannata
alla solitudine la vita che mi hai data.

E non voglio esser solo. Ho un’infinita fame
d’amore, dell’amore di corpi senza anima.

Perché l’anima è in te, sei tu, ma tu
sei mia madre e il tuo amore è la mia shiavitù:

ho passato l’infanzia schiavo di questo senso
alto, irrimediabile, di un impegno immenso.

Era l’unico modo per sentire la vita,
l’unica tinta, l’unica forma: ora è finita.

Sopravviviamo: ed è la confusione
di una vita rinata fuori dalla ragione.

Ti supplico, ah, ti supplico: non voler morire.
Sono qui, solo, con te, in un futuro aprile…

Da: “Poesia in forma di rosa” (1964)

Papirius Praetextatus enviado por sua mãe
para divulgar os segredos das
deliberações do Senado romano
Detalhe
(Angelica Kauffman: pintora suíça)

Súplica à Minha Mãe

É tão difícil me dirigir com palavras de filho
a quem bem pouco me assemelho no coração.

És a única no mundo a saber o que, em meu coração,
sempre esteve, antes de qualquer outro amor.

Por isso devo dizer-te o que é horrendo saber:
é dentro de tua graça que nasce a minha angústia.

És insubstituível. Por isso está condenada
à solidão a vida que me concedeste.

E não quero estar sozinho. Tenho uma infinita fome
de amor, de amor a corpos sem alma.

Porque em ti está a alma, és tu, mas
és minha mãe e, em teu amor, os meus grilhões:

passei a infância escravo desse sentimento
elevado, irremediável, de um desmedido compromisso.

Era a única maneira de sentir a vida,
o único matiz, a única forma: agora se acabou.

Sobrevivemos: em meio à confusão
de uma vida renascida fora da razão.

Suplico-te, ah, suplico-te: não desejes a morte.
Aqui estou, sozinho, contigo, em um futuro abril...

Em: “Poesia em forma de rosa” (1964)

Referência:

PASOLINI, Pier Paolo. Supplica a mia madre. In: __________. The selected poetry by Pier Paolo Pasolini. A bilingual edition: italian x english. Edited and translated by Stephen Sartarelli. With a foreword by James Yvory. Chicago, Il: The University of Chicago Press, 2014. p. 314 e 316.

4 comentários:

  1. Esta tradução é sua? Gostaria de citar em uma tradução que estou fazendo. Se me autorizar, como devo me referir ao tradutor?

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    1. Prezado Cezar:
      A tradução é de minha autoria. Se você assim o desejar, pode citá-la livremente, apresentando o 'link' de onde obtida, a data de acesso e o meu nome, conforme abaixo me subscrevo.
      João Augusto Rodrigues

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    2. Agradeço muito. Um abraço!

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