Neste poema pungente, a imagem capturada por Pasolini de sua mãe é
angustiante, de um amor insubstituível que o condena à solidão, ele que, sendo
invertido, apela para o corpo de outros homens, embora reconheça que, neles,
não há qualquer “anima”, senão apenas em sua genitora, de quem jamais fora
capaz de se libertar dos grilhões.
Nada obstante, ele lhe dirige uma súplica para que não deseje a morte, com
o propósito de que ambos possam ainda experimentar uma outra primavera,
reinício de vida após um tempo de sentimentos profundos e hibernados, de afloramento
da mais pura poesia que um recanto de rosas é capaz de suscitar.
J.A.R. – H.C.
Pier Paolo Pasolini
(1922-1975)
Supplica a Mia Madre
È difficile dire con
parole di figlio
ciò a cui nel cuore
ben poco assomiglio.
Tu sei la sola al
mondo che sa, del mio cuore,
ciò che è stato
sempre, prima d’ogni altro amore.
Per questo devo dirti
ciò ch’è orrendo consocere:
è dentro la tua
grazia che nasce la mia angoscia
Sei insostitubile.
Per questo è dannata
alla solitudine la
vita che mi hai data.
E non voglio esser
solo. Ho un’infinita fame
d’amore, dell’amore
di corpi senza anima.
Perché l’anima è in
te, sei tu, ma tu
sei mia madre e il
tuo amore è la mia shiavitù:
ho passato l’infanzia
schiavo di questo senso
alto, irrimediabile,
di un impegno immenso.
Era l’unico modo per
sentire la vita,
l’unica tinta,
l’unica forma: ora è finita.
Sopravviviamo: ed è
la confusione
di una vita rinata
fuori dalla ragione.
Ti supplico, ah, ti
supplico: non voler morire.
Sono qui, solo, con
te, in un futuro aprile…
Da: “Poesia in forma di rosa” (1964)
Papirius Praetextatus enviado por sua mãe
para divulgar os segredos das
deliberações do Senado romano
deliberações do Senado romano
Detalhe
(Angelica Kauffman: pintora
suíça)
Súplica à Minha Mãe
É tão difícil me
dirigir com palavras de filho
a quem bem pouco me
assemelho no coração.
És a única no mundo a
saber o que, em meu coração,
sempre esteve, antes
de qualquer outro amor.
Por isso devo
dizer-te o que é horrendo saber:
é dentro de tua graça
que nasce a minha angústia.
És insubstituível.
Por isso está condenada
à solidão a vida que
me concedeste.
E não quero estar
sozinho. Tenho uma infinita fome
de amor, de amor a
corpos sem alma.
Porque em ti está a alma,
és tu, mas
és minha mãe e, em
teu amor, os meus grilhões:
passei a infância
escravo desse sentimento
elevado,
irremediável, de um desmedido compromisso.
Era a única maneira
de sentir a vida,
o único matiz, a
única forma: agora se acabou.
Sobrevivemos: em meio
à confusão
de uma vida renascida
fora da razão.
Suplico-te, ah,
suplico-te: não desejes a morte.
Aqui estou, sozinho,
contigo, em um futuro abril...
Em: “Poesia em forma de rosa” (1964)
Referência:
PASOLINI, Pier Paolo. Supplica a mia
madre. In: __________. The selected
poetry by Pier Paolo Pasolini. A bilingual edition: italian x english.
Edited and translated by Stephen Sartarelli. With a foreword by James Yvory.
Chicago, Il: The University of Chicago Press, 2014. p. 314 e 316.
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Esta tradução é sua? Gostaria de citar em uma tradução que estou fazendo. Se me autorizar, como devo me referir ao tradutor?
ResponderExcluirPrezado Cezar:
ExcluirA tradução é de minha autoria. Se você assim o desejar, pode citá-la livremente, apresentando o 'link' de onde obtida, a data de acesso e o meu nome, conforme abaixo me subscrevo.
João Augusto Rodrigues
Agradeço muito. Um abraço!
ExcluirNão há de quê. JAR/
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