Qual seria a outra porta do prazer a que o poeta itabirano alude?
Haveria dúvidas nessa metáfora? Julgo que não! Há quem faça visitas frequentes
adentrando essa porta. Há quem, de modo algum, se permite visitas por essa via.
Tudo é uma questão de apelo, convencimento, liberação ou resistência.
Mas veja-se lá se estou aqui a conjecturar sobre coisas íntimas que, em
épocas de redes sociais desabridas, vêm à baila com certa frequência: volta e
meia aparecem figuras a veicular suas preferências eróticas aos quatro ventos
e, o pior, é que há audiência atenta a tais exposições. Mas haveria audiência
às sensualíssimas palavras do poeta?
J.A.R. – H.C.
Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
A Outra Porta do Prazer
A outra porta do prazer,
porta a que se bate suavemente,
seu convite é um prazer ferido a fogo
e, com isso, muito mais prazer.
Amor não é completo se não sabe
coisas que só amor pode inventar.
Procura o estreito átrio do cubículo
aonde não chega a luz, e chega o ardor
de insofrida, mordente
fome de conhecimento pelo gozo.
O Espectro do Apelo Sexual
(Salvador Dalí:
pintor espanhol)
Referência:
ANDRADE, Carlos Drummond. A outra porta
do prazer. In: __________. O amor
natural. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1992. p. 56.
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