O gato da poetisa é um mistério para ela: mesmo tendo-o destrinchado,
Swenson continuou com as dúvidas que lhe assaltavam acerca do chiado que o bichano
emite ao ronronar, como se houvesse alguma coisa estranha debaixo de sua
pelagem.
Seria um motor de um automóvel, uma linha elétrica ou telegráfica, um
diapasão ou um amplificador? Nada disso: o fato é que a poetisa não é capaz de
sintonizar o canal por onde o gato transmitiria as suas mensagens, de outro
modo repassadas intuitivamente pelos seus olhos, verdadeiros “tubos elípticos”.
J.A.R. – H.C.
May Swenson
The secret in the cat
I took my cat apart
to see what made him
purr.
Like an electric
clock
or like the snore
of a warming kettle,
something fizzed and
sizzled in him.
Was he a soft car,
the engine bubbling
sound?
Was there a wire
beneath his fur,
or humming throttle?
I undid his throat.
Within was no stir.
I opened his chest
as though it were a
door:
no whisk or rattle
there.
I lifted off his
skull:
no hiss or murmur.
I halved his little
belly
but found no gear,
no cause for static.
So I replaced his
lid,
laced his little gut.
His heart into his
vest I slid
and buttoned up his
throat.
His tail rose to a
rod
and beckoned to the
air.
Some voltage made him
vibrate
warmer than before.
Whiskers and a tail:
perhaps they caught
some radar code
emitted as a pip, a
dot-and-dash
of woolen sound.
My cat a kind of
tuning fork? –
amplifier? – telegraph?
–
doing secret signal
work?
His eyes elliptic
tubes:
there’s a message in
his stare.
I stroke him
but cannot find the
dial.
O favorito
(Frederico Andreotti:
pintor italiano)
O segredo no gato
Desmontei o meu gato
para ver o que o
fazia ronronar.
Como um relógio
elétrico
ou como o ronco
de uma chaleira
aquecida,
algo nele zumbia e
chiava.
Era um carro macio,
com o som do motor a
borbulhar?
Havia uma linha
elétrica sob seu pelo,
ou o zumbido do
acelerador?
Descerrei-lhe a
garganta.
Dentro não havia
agitação.
Abri o seu peito
como se uma porta
fosse:
nenhum estalido ou
guizo lá.
Despeguei-lhe o
crânio:
sem silvos nem
murmúrios.
Cortei ao meio seu
pequeno ventre,
mas não topei com
mecanismo algum,
nenhuma causa para a
estática.
Então lhe repus a cachola,
entrancei-lhe o diminuto
intestino.
Seu coração no torso
eu assentei
e voltei a confinar sua
garganta.
Sua cauda empinou
feito um tirante,
e fez acenos ao ar.
Alguma voltagem o fez
vibrar
mais aquecido do que
antes.
Os bigodes e a cauda
talvez tenham
capturado
algum código de radar
emitido como um
sinal, um ponto e traço
de um som lanoso.
Meu gato é uma
espécie de diapasão? –
amplificador? – telégrafo?
–
prestando serviço de
sinal secreto?
Seus olhos são tubos
elípticos:
há uma mensagem em
seu olhar.
Eu o acaricio,
mas não consigo dar
com o sintonizador.
Referência:
SWENSON, May. The secret in the cat.
In: MOLLOY, Paul (Ed.). 100 plus
american poems. 6th printing. New York, NY: Scholastic Book Services, 1973.
p. 50-51.
ö
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