Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

May Swenson - O segredo no gato

O gato da poetisa é um mistério para ela: mesmo tendo-o destrinchado, Swenson continuou com as dúvidas que lhe assaltavam acerca do chiado que o bichano emite ao ronronar, como se houvesse alguma coisa estranha debaixo de sua pelagem.

Seria um motor de um automóvel, uma linha elétrica ou telegráfica, um diapasão ou um amplificador? Nada disso: o fato é que a poetisa não é capaz de sintonizar o canal por onde o gato transmitiria as suas mensagens, de outro modo repassadas intuitivamente pelos seus olhos, verdadeiros “tubos elípticos”.

J.A.R. – H.C.

May Swenson
(1913-1989)

The secret in the cat

I took my cat apart
to see what made him purr.
Like an electric clock
or like the snore

of a warming kettle,
something fizzed and sizzled in him.
Was he a soft car,
the engine bubbling sound?

Was there a wire beneath his fur,
or humming throttle?
I undid his throat.
Within was no stir.

I opened his chest
as though it were a door:
no whisk or rattle there.
I lifted off his skull:

no hiss or murmur.
I halved his little belly
but found no gear,
no cause for static.

So I replaced his lid,
laced his little gut.
His heart into his vest I slid
and buttoned up his throat.

His tail rose to a rod
and beckoned to the air.
Some voltage made him vibrate
warmer than before.

Whiskers and a tail:
perhaps they caught
some radar code
emitted as a pip, a dot-and-dash

of woolen sound.
My cat a kind of tuning fork? –
amplifier? – telegraph? –
doing secret signal work?

His eyes elliptic tubes:
there’s a message in his stare.
I stroke him
but cannot find the dial.

O favorito
(Frederico Andreotti: pintor italiano)

O segredo no gato

Desmontei o meu gato
para ver o que o fazia ronronar.
Como um relógio elétrico
ou como o ronco

de uma chaleira aquecida,
algo nele zumbia e chiava.
Era um carro macio,
com o som do motor a borbulhar?

Havia uma linha elétrica sob seu pelo,
ou o zumbido do acelerador?
Descerrei-lhe a garganta.
Dentro não havia agitação.

Abri o seu peito
como se uma porta fosse:
nenhum estalido ou guizo lá.
Despeguei-lhe o crânio:

sem silvos nem murmúrios.
Cortei ao meio seu pequeno ventre,
mas não topei com mecanismo algum,
nenhuma causa para a estática.

Então lhe repus a cachola,
entrancei-lhe o diminuto intestino.
Seu coração no torso eu assentei
e voltei a confinar sua garganta.

Sua cauda empinou feito um tirante,
e fez acenos ao ar.
Alguma voltagem o fez vibrar
mais aquecido do que antes.

Os bigodes e a cauda
talvez tenham capturado
algum código de radar
emitido como um sinal, um ponto e traço

de um som lanoso.
Meu gato é uma espécie de diapasão? –
amplificador? – telégrafo? –
prestando serviço de sinal secreto?

Seus olhos são tubos elípticos:
há uma mensagem em seu olhar.
Eu o acaricio,
mas não consigo dar com o sintonizador.

Referência:

SWENSON, May. The secret in the cat. In: MOLLOY, Paul (Ed.). 100 plus american poems. 6th printing. New York, NY: Scholastic Book Services, 1973. p. 50-51.
ö

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