Três reis magos que, no enredo do poema
de Ricardo, apresentam-se transfigurados nas raças que se mesclaram para formar
o que, hoje, é povo brasileiro: o índio, o branco e o negro – na ordem em que
citados nas estrofes –, associados, respectivamente, às cores vermelha, branca
e preta.
Há vinculação também, como se observa,
à ordem como flui o dia inteiro: do arrebol avermelhado – presente do índio ao
infante – ao dia claro – prenda do branco – e daí à negritude da noite – regalo
do negro, de cujo passado, em triste memória da escravidão, resultou o “rosto
cortado de açoite” – designadamente, um verso que altera a sequência anterior
de dísticos para o terceto final.
J.A.R. – H.C.
Cassiano Ricardo
(1895-1974)
Reis Magos
E pra ouvir a sua história
vieram três reis encantados:
um vermelho, o que lhe trouxe
a manhã como presente;
outro branco, o que lhe havia
feito presente do dia;
outro preto, finalmente,
rosto cortado de açoite.
O que lhe trouxera a noite...
Em: “Martim Cererê
(1928)
A Adoração dos Magos
(Antônio Allegri [Correggio]: pintor italiano)
Referência:
RICARDO, Cassiano.
Reis magos. In: __________. Seleta em
prosa e verso. Organização, notas e estudos de Nelly Novaes Coelho. Nota de
Paulo Rónai. Rio de Janeiro, GB: José Olympio & INL, 1972. p.15.
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