Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 5 de janeiro de 2020

Cassiano Ricardo - Reis Magos

Três reis magos que, no enredo do poema de Ricardo, apresentam-se transfigurados nas raças que se mesclaram para formar o que, hoje, é povo brasileiro: o índio, o branco e o negro – na ordem em que citados nas estrofes –, associados, respectivamente, às cores vermelha, branca e preta.

Há vinculação também, como se observa, à ordem como flui o dia inteiro: do arrebol avermelhado – presente do índio ao infante – ao dia claro – prenda do branco – e daí à negritude da noite – regalo do negro, de cujo passado, em triste memória da escravidão, resultou o “rosto cortado de açoite” – designadamente, um verso que altera a sequência anterior de dísticos para o terceto final.

J.A.R. – H.C.

Cassiano Ricardo
(1895-1974)

Reis Magos

E pra ouvir a sua história
vieram três reis encantados:

um vermelho, o que lhe trouxe
a manhã como presente;

outro branco, o que lhe havia
feito presente do dia;

outro preto, finalmente,
rosto cortado de açoite.
O que lhe trouxera a noite...

Em: “Martim Cererê (1928)

A Adoração dos Magos
(Antônio Allegri [Correggio]: pintor italiano)

Referência:

RICARDO, Cassiano. Reis magos. In: __________. Seleta em prosa e verso. Organização, notas e estudos de Nelly Novaes Coelho. Nota de Paulo Rónai. Rio de Janeiro, GB: José Olympio & INL, 1972. p.15.

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