Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 18 de janeiro de 2020

Fernando Ferreira de Loanda - Machu Picchu

Machu Picchu é um enlevo nas alturas. E foi de lá que o poeta trouxe até as palavras tudo o que sentiu de modo irrefreável, até mesmo o incrível fato de aquelas paragens terem permanecido por tanto tempo desconhecidas do mundo civilizado. Afinal, somente em 1911 veio a ser descoberta, embora a sua existência já houvesse sido afirmada por outros exploradores décadas antes disso.

“O anonimato é a maior glória”, assevera Loanda. Por isso uma outra linguagem há de ser potencializada, para logo se tornar vencida... e mais outra e outra ainda. Porque sob a égide do tempo nada e capaz de perdurar: desgasta-se o que sobre a terra existe, desgastam-se do mesmo modo as palavras!

J.A.R. – H.C.

Fernando Ferreira de Loanda
(1924-2002)

Machu Picchu

A Javier Sologuren

Sem bandeira, feridas pelo efêmero,
tuas pedras e teu silêncio,
entre o rio e o infinito, obscurecem tudo
o que se escreveu sobre ti;

o tecido volátil se desfaz,
gastam-se as lajes e os símbolos,
gastam-se as palavras,
roubam-te as imagens que não patenteaste,
confundem-se, fragmentam-se;

o vento desfolha o demonstrado, exige
uma linguagem outra, mas que perecível
terá que ser substituída também:
não forces a porta, o anonimato
é a maior glória.

Tudo nos conduz à lucidez que antevê o caos,
a flor precede o fruto.

Em: “Kuala Lumpur” (1991)

Machu Picchu
(Julius Ku: pintor norte-americano)

Referência:

LOANDA, Fernando Ferreira. Machu Picchu. In: SEFFRIN, André (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia brasileira: anos 50. 1. ed. São Paulo, SP: Global, 2007. p. 105.

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