Machu Picchu é um enlevo nas alturas. E foi de lá que o poeta trouxe até
as palavras tudo o que sentiu de modo irrefreável, até mesmo o incrível fato de
aquelas paragens terem permanecido por tanto tempo desconhecidas do mundo
civilizado. Afinal, somente em 1911 veio a ser descoberta, embora a sua
existência já houvesse sido afirmada por outros exploradores décadas antes
disso.
“O anonimato é a maior glória”, assevera Loanda. Por isso uma outra
linguagem há de ser potencializada, para logo se tornar vencida... e mais outra
e outra ainda. Porque sob a égide do tempo nada e capaz de perdurar:
desgasta-se o que sobre a terra existe, desgastam-se do mesmo modo as palavras!
J.A.R. – H.C.
Fernando Ferreira de Loanda
(1924-2002)
Machu Picchu
A Javier Sologuren
Sem bandeira, feridas
pelo efêmero,
tuas pedras e teu
silêncio,
entre o rio e o
infinito, obscurecem tudo
o que se escreveu
sobre ti;
o tecido volátil se
desfaz,
gastam-se as lajes e
os símbolos,
gastam-se as
palavras,
roubam-te as imagens
que não patenteaste,
confundem-se, fragmentam-se;
o vento desfolha o
demonstrado, exige
uma linguagem outra,
mas que perecível
terá que ser
substituída também:
não forces a porta, o
anonimato
é a maior glória.
Tudo nos conduz à
lucidez que antevê o caos,
a flor precede o
fruto.
Em: “Kuala Lumpur” (1991)
Machu Picchu
(Julius Ku: pintor
norte-americano)
Referência:
LOANDA, Fernando Ferreira. Machu
Picchu. In: SEFFRIN, André (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia brasileira: anos 50. 1. ed. São Paulo, SP:
Global, 2007. p. 105.
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