O poeta se espanta com toda a criação que Deus lhe colocou à disposição
com o poder de sua voz, e levanta o argumento de que Deus, não podendo mais
resistir ao nada – uma autêntica ferida –, aliviou sua dor criando o mundo com
o poder da palavra, materializando neste domínio a concepção de suas onipotentes
ideias.
Mas veja, leitor, que, ao fim, Rilke expressa a mesma ideia sobre Deus
que, no poema anterior, Nejar também abraça: o Eterno transforma o seu próprio
semblante amparado na indefinição, na sombra. Os humanos, porém, permanecem expostos
às febres do vazio.
J.A.R. – H.C.
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
Gott, wie begreif ich deine Stunde
Gott, wie begreif ich
deine Stunde,
als du, daß sie im
Raum sich runde,
die Stimme vor dich
hingestellt;
dir war das Nichts
wie eine Wunde,
da kühltest du sie
mit der Welt.
Jetzt heilt es leise
unter uns.
Denn die
Vergangenheiten tranken
die vielen Fieber aus
dem Kranken,
wir fühlen schon in
sanftem Schwanken
den ruhigen Puls des
Hintergrunds.
Wir liegen lindernd
auf dem Nichts,
und wir verhüllen
alle Risse;
du aber wächst ins
Ungewisse
im Schatten deines
Angesichts.
In: Erstes Buch – “Vom Mönchischen
Leben” (1899)
Representação de Deus na Capela Sistina
(Michelangelo: pintor
italiano)
Deus, como eu te capto a hora
Deus, como eu te
capto a hora
quando, para ela
gravitar no espaço,
pões tua voz adiante
de ti;
para ti o nada era
que nem ferida
que com o mundo
pensaste.
Agora sob nós ela se
cura aos poucos.
Então os passados
bebem
as numerosas febres
do doente:
já na suave
indefinição, sentimos
o pulso tranquilo que
vem de dentro.
Mitigados jazemos
sobre o nada
e todas as fendas nós
disfarçamos:
tu porém fazes na
indefinição,
na sombra,
transformar-se o teu semblante.
Em: Livro Primeiro – “Da Vida
Monástica” (1899)
Referências:
Em Alemão
RILKE, Rainer Maria. Gott, wie begreif
ich deine stunde. In: __________. Das
Stunden-Buch. Leipzig, DE: Insel-Verlag, 1918. p. 29. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 jan. 2020.
Em Português
RILKE, Rainer Maria. Deus, como eu te
capto a hora. Tradução de Geir Campos. In: __________. Livro das horas. Tradução de Geir Campos. 2. ed. Rio de Janeiro,
RJ: Civilização Brasileira, 1994. p. 57.
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