Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Sophia de Mello Breyner Andresen - Praia

Os poetas são muito hábeis a vislumbrar possibilidades da linguagem que, a outros, se limitam a, quando muito, descrever literalmente ou o que veem ou as circunstâncias lógicas de tudo o quanto esteja a seu alcance. Mas a mirada do vate é algo que não se circunscreve ao plano meramente lógico, porque o objeto de seu trato – a poesia – distribui o seu plasma por onde quer que ele pouse a vista.

Veja o leitor, por exemplo, este poema da poetisa portuguesa: na mão da maioria, o tema resultaria delimitado e algo estático, denotativo demais. Mas , nas mãos de Andresen, se converte num belo exemplar de como a palavra pode ser empregada para dar contornos elegantes e inusitados a uma imagem à beira da trivialidade.

J.A.R. – H.C.

Sophia de M. B. Andresen
(1919-2004)

Praia

Os pinheiros gemem quando passa o vento
O sol bate no chão e as pedras ardem.

Longe caminham os deuses fantásticos do mar
Brancos de sal e brilhantes como peixes.

Pássaros selvagens de repente,
Atirados contra a luz como pedradas,
Sobem e morrem no céu verticalmente
E o seu corpo é tomado nos espaços.

As ondas marram quebrando contra a luz
A sua fronte ornada de colunas.

E uma antiquíssima nostalgia de ser mastro
Baloiça nos pinheiros.

Guarda-Sol
(Edward H. Potthast: pintor norte-amerciano)

Referência:

ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. Praia. In: __________. Coral e outros poemas. Seleção e apresentação de Eucanaã Ferraz. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2018. p. 85.

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