Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Torquato Neto - Poema do aviso final

Este poema, que muito provavelmente foi redigido durante a ditadura militar que vigorou dos anos 60 aos 80 do século passado em Pindorama, novamente tem validade no presente momento, quando milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza tomaram novamente conta das ruas ou entraram na mais completa informalidade econômica, tudo como resultado das políticas de desmantelamento de bem-estar social pelo atual governo.

São miríades de pedintes que, pelo menos há duas décadas, não se viam tão facilmente, mas que não possuem o mínimo poder de arregimentação coletiva para fazerem valer os seus direitos de cidadania, assentes no princípio da dignidade da pessoa humana. E olhe que muitos deles votaram nesse troglodita que tomou o poder, tornando-se massa manipulável que agora é atirada sem apelo à margem.

J.A.R. – H.C.

Torquato Neto
(1944-1972)

Poema do aviso final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

Os Despossuídos
(Mervin Jules: pintor norte-americano)

Referência:

ARAÚJO NETO, Torquato Pereira de. Poema do aviso final. In: ANDRADE, Mário de et al. 50 poemas de revolta. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. p. 44.

2 comentários:

  1. Excelente análise! infelizmente real constatação!

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    1. Prezado(a):
      De fato, infelizmente, é isso o que se passa por aqui, que de um "país do futuro" passou a reviver mazelas do passado.
      Um abraço,
      João A. Rodrigues.

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