Este poema, que muito provavelmente foi redigido durante a ditadura
militar que vigorou dos anos 60 aos 80 do século passado em Pindorama,
novamente tem validade no presente momento, quando milhões de pessoas abaixo da
linha da pobreza tomaram novamente conta das ruas ou entraram na mais completa
informalidade econômica, tudo como resultado das políticas de desmantelamento
de bem-estar social pelo atual governo.
São miríades de pedintes que, pelo menos há duas décadas, não se viam
tão facilmente, mas que não possuem o mínimo poder de arregimentação coletiva
para fazerem valer os seus direitos de cidadania, assentes no princípio da
dignidade da pessoa humana. E olhe que muitos deles votaram nesse troglodita
que tomou o poder, tornando-se massa manipulável que agora é atirada sem apelo
à margem.
J.A.R. – H.C.
Torquato Neto
(1944-1972)
Poema do aviso final
É preciso que haja
alguma coisa
alimentando o meu
povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer
esperança.
É preciso que alguma
coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de
lado
e na procura da vida
a morte virá na
frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja
algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana
se afirmará
a machadadas.
Os Despossuídos
(Mervin Jules: pintor
norte-americano)
Referência:
ARAÚJO NETO, Torquato Pereira de. Poema
do aviso final. In: ANDRADE, Mário de et al. 50 poemas de revolta. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras,
2017. p. 44.
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Excelente análise! infelizmente real constatação!
ResponderExcluirPrezado(a):
ExcluirDe fato, infelizmente, é isso o que se passa por aqui, que de um "país do futuro" passou a reviver mazelas do passado.
Um abraço,
João A. Rodrigues.