Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de janeiro de 2020

Giacomo Leopardi - Sábado na Aldeia

Tudo se passa idilicamente numa pequena aldeia do interior da Itália, de onde, supostamente, o poeta condensou as imagens que compõem as estrofes do poema, opondo, de início, uma jovem e uma velha – para demarcar a passagem do tempo naquelas paragens, lúdica e, provavelmente, tediosa a um só tempo – e, por fim, dirigindo-se a si próprio, para que desfrute a era serena de floração de esperanças.

Temos aí as expectativas da maturidade, enquanto se é jovem e feliz, no prazer do sábado, enquanto o domingo não irrompe, para ratificar ou infirmar aquelas expectativas, neste último caso gerando inquietações e angústias que podem levar, caso haja reiteração no malogro, à desilusão dos semblantes desencantados. No meio de tudo, o trabalho do carpinteiro, para tirar o foco de tais desgostos.

J.A.R. – H.C.

Giacomo Leopardi
(1798-1837)
Retrato póstumo por Domenico Morelli

Il Sabato del Villaggio

La donzelletta vien dalla campagna
in sul calar del sole,
col suo fascio dell’erba; e reca in mano
un mazzolin di rose e viole,
onde, siccome suole, ornare ella si appresta
dimani, al dí di festa, il petto e il crine.
Siede con le vicine
su la scala a filar la vecchierella,
incontro là dove si perde il giorno;
e novellando vien del suo buon tempo,
quando ai dí della festa ella si ornava,
ed ancor sana e snella
solea danzar la sera intra di quei
ch’ebbe compagni nell’età piú bella.
Già tutta l’aria imbruna,
torna azzurro il sereno, e tornan l’ombre
giú da’ colli e da’ tetti,
al biancheggiar della recente luna.
Or la squilla dà segno
della festa che viene;
ed a quel suon diresti
che il cor si riconforta.
I fanciulli gridando
su la piazzuola in frotta,
e qua e là saltando,
fanno un lieto romore;
e intanto riede alla sua parca mensa,
fischiando, il zappatore,
e seco pensa al dí del suo riposo.

Poi quando intorno è spenta ogni altra face,
e tutto l’altro tace,
odi il martel picchiare, odi la sega
del legnaiuol, che veglia
nella chiusa bottega alla lucerna,
e s’affretta, e s’adopra
di fornir l’opra anzi al chiarir dell’alba.

Questo di sette è il più gradito giorno,
pien di speme e di gioia:
diman tristezza e noia
recheran l’ore, ed al travaglio usato
ciascuno in suo pensier farà ritorno.

Garzoncello scherzoso,
cotesta età fiorita
è come un giorno d’allegrezza pieno,
giorno chiaro, sereno,
che precorre alla festa di tua vita.
Godi, fanciullo mio; stato soave,
stagion lieta è cotesta.
Altro dirti non vo’; ma la tua festa
ch’anco tardi a venir non ti sia grave.

A Vila das Sirenes
(Paul Delvaux: pintor belga)

Sábado na Aldeia

A donzelinha chega lá do campo,
Na hora em que o sol se deita,
Com o seu feixe de erva, e traz na mão
Um molhinho de rosas e violetas:
É com elas que enfeita,
Na festa de amanhã,
Como é costume, o colo e a cabeleira.
Senta-se na soleira,
Ao lado das vizinhas, a velhinha,
E ficam a fiar no fim do dia;
Ela conversa sobre os seus bons tempos,
Quando, em dia de festa, se enfeitava
E, esbelta e sã ainda,
Dançava à noite com as companheiras
Da juventude, essa idade tão linda,
lá escurece o ar,
O céu se torna azul e a sombra abranda-se
Nos outeiros e tetos
Que a lua nascente faz branquejar.
O sino ora anuncia
O começo da festa;
De tal som se diria
Que alenta o coração.
Os meninos, em bando
Pela pracinha vão
A correr e a saltar
Num alegre rumor.
Assoviando, volta à parca mesa,
Entanto, o sachador,
E pensa no seu dia de repouso.

Depois, quando se apagam os fanais
E cala tudo o mais,
Ouve o som do martelo, o som da serra:
O carpinteiro vela
Em sua oficina, à luz da candeia,
E se apressa e se esforça
Por cumprir a tarefa antes que amanheça.

Este é um dia alegre e esperançoso,
O melhor da semana;
Mas a tristeza empana
A mente das pessoas, de amanhã
Ter de voltar ao seu labor tedioso.

Garoto folgazão,
Esta idade florida
É como um dia de alegria pleno,
Dia claro, sereno,
Que antecede a festa de tua vida.
Folga, meu garoto; estado suave,
Mais não te quero dizer; que tua festa
Tardia embora, não te seja grave.

Referências:

Em Italiano

LEOPARDI, Giacomo. Il sabato del villaggio. Disponível neste endereço. Acesso em: 13 jan. 2020.

Em Português

LEOPARDI, Giacomo. Sábado na aldeia. Tradução de José Paulo Paes. In: __________. Poesia e prosa. Organização e notas de Marco Lucchesi. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Aguilar, 1996. p. 258-259. (‘Biblioteca Universal’)

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