Que a humanidade seja capaz de aspirar por algo mais elevado, ou bem por
meio da religião, para garantir paz de espírito, ou bem mediante a ciência,
como um conforto para as suas dúvidas. No primeiro caso, Frost apela a uma
forma de oração por vocativos direcionados a uma estrela; na segunda, ao estado
físico de ardor da estrela, em alta temperatura, por certo.
Trata-se de um passo para tornar nossas vidas mais significativas sobre
a terra, não nos limitando a um plano biológico de existência: elevar o
espírito em tempos tão difíceis e avassaladores, além de fartos quer de encômios
quer de penitências. Ou de outro modo: nossas paixões ou são muito quentes ou
muito frias, e os eventos nos levam a pensar demais ou muito mal sobre nós
mesmos. Em tais situações, Frost nos sugere que devamos recuar, contemplar
alguma figura distante e nos permitir alcançar alguma perspectiva.
Não sou parcial com
meus poemas, assim como uma mãe com os seus filhos. Porém sua seleção, “Escolha
Algo como uma Estrela”, é uma que gosto de comentar. Dela pareço gostar como
Horácio ao final da vida. Logo, aprecio as duas maneiras de grafar “firme”;
isso é jogar com as palavras. E, por ora, gosto de misturar ciência e espírito –
como o faço de modo deliberado em meu novo livro. Porém há coisas além de tudo
isso com as quais me preocupo mais – e espero que todos a empreendamos. (ENGLE;
LANGLAND, 1962, p. 2)
J.A.R. – H.C.
Robert Frost
(1874-1963)
Choose Something Like a Star
O Star (the fairest
one in sight),
We grant your
loftiness the right
To some obscurity of
cloud –
It will not do to say
of night,
Since dark is what
brings out your light.
Some mystery becomes
the proud.
But to be wholly
taciturn
In your reserve is
not allowed.
Say something to us
we can learn
By heart and when
alone repeat.
Say something! And it
says “I burn.”
But say with what
degree of heat.
Talk Fahrenheit, talk
Centigrade.
Use language we can
comprehend.
Tell us what elements
you blend.
It gives us strangely
little aid,
But does tell
something in the end.
And steadfast as
Keats’ Eremite,
Not even stooping
from its sphere,
It asks a little of
us here.
It asks of us a
certain height,
So when at times the
mob is swayed
To carry praise or
blame too far,
We may choose
something like a star
To stay our minds on
and be staid.
(1916)
O Meteoro de 1860
(Frederic E. Church:
pintor norte-americano)
Escolha Algo Como uma Estrela
Ó Estrela (a mais
bela à vista),
Imputamos à tua
altitude o direito
A alguma obscuridade causada
pela nuvem –
Não se poderá atribuí-la
à noite,
Já que a escuridão é
o que revela a tua luz.
Algum mistério se
converte em orgulho.
Mas em tua reserva
não há permissão
A que fiques
completamente taciturna.
Dize-nos algo que
possamos aprender
De cor e, quando
sozinhos, repetir.
Dize algo! Como seja:
“Eu flamejo”
Porém dize com que
grau de calor.
Fala Fahrenheit, fala
Centígrado.
Usa uma linguagem que
possamos compreender.
Dize-nos quais os
elementos que mesclas.
Isso estranhamente nos
ajuda muito pouco,
Mas revela algo ao
final.
E firme, como o
Eremita de Keats,
Sem sequer debruçar-te
de tua esfera,
Pede-nos aqui um pouco
de nós.
Pede-nos uma certa
altura,
Para que, quando às
vezes a turba deixa-se levar
Por elogios ou culpas
longe demais,
Possamos escolher
algo como uma estrela
Para preservar nossas
mentes e sermos firmes.
(1916)
Referência:
FROST, Robert. Choose something like a star.
In: ENGLE, Paul; LANGLAND, Joseph (Eds.). Poets’
choice. New York, NY: The Dial Press, 1962. p. 1-2.
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