Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Robert Frost - Escolha Algo Como uma Estrela

Que a humanidade seja capaz de aspirar por algo mais elevado, ou bem por meio da religião, para garantir paz de espírito, ou bem mediante a ciência, como um conforto para as suas dúvidas. No primeiro caso, Frost apela a uma forma de oração por vocativos direcionados a uma estrela; na segunda, ao estado físico de ardor da estrela, em alta temperatura, por certo.

Trata-se de um passo para tornar nossas vidas mais significativas sobre a terra, não nos limitando a um plano biológico de existência: elevar o espírito em tempos tão difíceis e avassaladores, além de fartos quer de encômios quer de penitências. Ou de outro modo: nossas paixões ou são muito quentes ou muito frias, e os eventos nos levam a pensar demais ou muito mal sobre nós mesmos. Em tais situações, Frost nos sugere que devamos recuar, contemplar alguma figura distante e nos permitir alcançar alguma perspectiva.

Não sou parcial com meus poemas, assim como uma mãe com os seus filhos. Porém sua seleção, “Escolha Algo como uma Estrela”, é uma que gosto de comentar. Dela pareço gostar como Horácio ao final da vida. Logo, aprecio as duas maneiras de grafar “firme”; isso é jogar com as palavras. E, por ora, gosto de misturar ciência e espírito – como o faço de modo deliberado em meu novo livro. Porém há coisas além de tudo isso com as quais me preocupo mais – e espero que todos a empreendamos. (ENGLE; LANGLAND, 1962, p. 2)

J.A.R. – H.C.

Robert Frost
(1874-1963)

Choose Something Like a Star

O Star (the fairest one in sight),
We grant your loftiness the right
To some obscurity of cloud
It will not do to say of night,
Since dark is what brings out your light.
Some mystery becomes the proud.
But to be wholly taciturn
In your reserve is not allowed.
Say something to us we can learn
By heart and when alone repeat.
Say something! And it says “I burn.”
But say with what degree of heat.
Talk Fahrenheit, talk Centigrade.
Use language we can comprehend.
Tell us what elements you blend.
It gives us strangely little aid,
But does tell something in the end.
And steadfast as Keats’ Eremite,
Not even stooping from its sphere,
It asks a little of us here.
It asks of us a certain height,
So when at times the mob is swayed
To carry praise or blame too far,
We may choose something like a star
To stay our minds on and be staid.

(1916)
  
O Meteoro de 1860
(Frederic E. Church: pintor norte-americano)

Escolha Algo Como uma Estrela

Ó Estrela (a mais bela à vista),
Imputamos à tua altitude o direito
A alguma obscuridade causada pela nuvem –
Não se poderá atribuí-la à noite,
Já que a escuridão é o que revela a tua luz.
Algum mistério se converte em orgulho.
Mas em tua reserva não há permissão
A que fiques completamente taciturna.
Dize-nos algo que possamos aprender
De cor e, quando sozinhos, repetir.
Dize algo! Como seja: “Eu flamejo”
Porém dize com que grau de calor.
Fala Fahrenheit, fala Centígrado.
Usa uma linguagem que possamos compreender.
Dize-nos quais os elementos que mesclas.
Isso estranhamente nos ajuda muito pouco,
Mas revela algo ao final.
E firme, como o Eremita de Keats,
Sem sequer debruçar-te de tua esfera,
Pede-nos aqui um pouco de nós.
Pede-nos uma certa altura,
Para que, quando às vezes a turba deixa-se levar
Por elogios ou culpas longe demais,
Possamos escolher algo como uma estrela
Para preservar nossas mentes e sermos firmes.

(1916)

Referência:

FROST, Robert. Choose something like a star. In: ENGLE, Paul; LANGLAND, Joseph (Eds.). Poets’ choice. New York, NY: The Dial Press, 1962. p. 1-2.

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