Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Stephen Dunn - A Imaginada

O relacionamento de um homem com duas mulheres, uma real e outra imaginada, fazendo corroer o relacionamento do casal “reciprocamente”, ora ora, pois quem não poderia conjecturar que a mulher real não teria um outro parceiro imaginado, muito mais “completo” do que aquele que lhe faz companhia em casa?!

É a duplicidade da vida mental, quer do marido quer de sua esposa, que configura o motivo maior deste jocoso poema, embora não menos dramático, pois o que se postula, ao fim, é que ambos se juntem para “discutir a relação”, para que, de fato, os parceiros imaginados não se tornem reais e passem a interferir concretamente no convívio do par original.

J.A.R. – H.C.

Stephen Dunn
(n. 1939)

The Imagined

If the imagined woman makes the real woman
seem bare-boned, hardly existent, lacking in
gracefulness and intellect and pulchritude,
and if you come to realize the imagined woman
can only satisfy your imagination, whereas
the real woman with all her limitations
can often make you feel good, how, in spite
of knowing this, does the imagined woman
keep getting into your bedroom, and joining you
at dinner, why is it that you always bring her along
on vacations when the real woman is shopping,
or figuring the best way to the museum?

And if the real woman

has an imagined man, as she must, someone
probably with her at this very moment, in fact
doing and saying everything she’s ever wanted,
would you want to know that he slips in
to her life every day from a secret doorway
she’s made for him, that he’s present even when
you’re eating your omelette at breakfast,
or do you prefer how she goes about the house
as she does, as if there were just the two of you?
Isn’t her silence, finally, loving? And yours
not entirely self-serving? Hasn’t the time come,

once again, not to talk about it?

No café, em Paris
(Konstantin Razumov)

A Imaginada

Se a mulher imaginada faz com que a mulher real
pareça desossada, quase inexistente, carente de
graciosidade, intelecto e pulcritude,
e se te dás conta de que a mulher imaginada
somente pode satisfazer a tua imaginação, enquanto
que a mulher real, com todas as suas limitações,
é capaz de, amiúde, fazer-te sentir bem, como, apesar
de disso saberes, a mulher imaginada continua
entrando em teu quarto e a ti se juntando
durante o jantar, por que sempre a levas
em férias, enquanto a mulher real está em compras,
ou descobrindo o melhor caminho para o museu?

E se a mulher real

tivesse um homem imaginado, como deveria ter,
alguém provavelmente com ela neste exato momento,
fazendo e dizendo de fato tudo o que ela sempre quis,
gostarias de saber que ele adentra a sua vida
todos os dias a partir de uma porta secreta
que ela fez para ele, levando-o a estar presente
mesmo quando estás comendo tua omelete no desjejum,
ou preferirias vê-la transitar pela casa
como ela o faz, como se fossem somente vocês dois?
não seria amoroso, por fim, o silêncio dela? E o teu
não seria totalmente egoísta? Não teria chegado a hora,

uma vez mais, de não falar sobre isso?

Referência:

DUNN, Stephen. The imagined. In: PINSKY, Robert (Ed.). The best of the best american poetry. 25th Anniversary Edition. New York, NY: Scribner Poetry, 2013. p. 72.

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