O relacionamento de um homem com duas mulheres, uma real e outra
imaginada, fazendo corroer o relacionamento do casal “reciprocamente”, ora ora,
pois quem não poderia conjecturar que a mulher real não teria um outro parceiro
imaginado, muito mais “completo” do que aquele que lhe faz companhia em casa?!
É a duplicidade da vida mental, quer do marido quer de sua esposa, que
configura o motivo maior deste jocoso poema, embora não menos dramático, pois o
que se postula, ao fim, é que ambos se juntem para “discutir a relação”, para
que, de fato, os parceiros imaginados não se tornem reais e passem a interferir
concretamente no convívio do par original.
J.A.R. – H.C.
Stephen Dunn
The Imagined
If the imagined woman
makes the real woman
seem bare-boned,
hardly existent, lacking in
gracefulness and
intellect and pulchritude,
and if you come to
realize the imagined woman
can only satisfy your
imagination, whereas
the real woman with
all her limitations
can often make you
feel good, how, in spite
of knowing this, does
the imagined woman
keep getting into
your bedroom, and joining you
at dinner, why is it
that you always bring her along
on vacations when the
real woman is shopping,
or figuring the best
way to the museum?
And if the real woman
has an imagined man,
as she must, someone
probably with her at
this very moment, in fact
doing and saying
everything she’s ever wanted,
would you want to
know that he slips in
to her life every day
from a secret doorway
she’s made for him,
that he’s present even when
you’re eating your
omelette at breakfast,
or do you prefer how
she goes about the house
as she does, as if
there were just the two of you?
Isn’t her silence,
finally, loving? And yours
not entirely
self-serving? Hasn’t the time come,
once again, not to
talk about it?
No café, em Paris
(Konstantin Razumov)
A Imaginada
Se a mulher imaginada
faz com que a mulher real
pareça desossada,
quase inexistente, carente de
graciosidade,
intelecto e pulcritude,
e se te dás conta de
que a mulher imaginada
somente pode
satisfazer a tua imaginação, enquanto
que a mulher real, com
todas as suas limitações,
é capaz de, amiúde,
fazer-te sentir bem, como, apesar
de disso saberes, a
mulher imaginada continua
entrando em teu
quarto e a ti se juntando
durante o jantar, por
que sempre a levas
em férias, enquanto a
mulher real está em compras,
ou descobrindo o
melhor caminho para o museu?
E se a mulher real
tivesse um homem
imaginado, como deveria ter,
alguém provavelmente
com ela neste exato momento,
fazendo e dizendo de
fato tudo o que ela sempre quis,
gostarias de saber
que ele adentra a sua vida
todos os dias a
partir de uma porta secreta
que ela fez para ele,
levando-o a estar presente
mesmo quando estás
comendo tua omelete no desjejum,
ou preferirias vê-la
transitar pela casa
como ela o faz, como
se fossem somente vocês dois?
não seria amoroso,
por fim, o silêncio dela? E o teu
não seria totalmente
egoísta? Não teria chegado a hora,
uma vez mais, de não falar sobre isso?
Referência:
DUNN, Stephen. The imagined. In:
PINSKY, Robert (Ed.). The best of the
best american poetry. 25th Anniversary Edition. New York, NY: Scribner
Poetry, 2013. p. 72.
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