Andando no limite, com pressa de chegar e, de repente, estamos frente à
morte... e a vida continua sob um estresse sem sentido, pois que, sob o ponto
de vista do poeta, uma vida condicionada por determinadas circunstâncias é
plenamente substituível por outra que está à espera de lhe tomar o lugar.
Num poema escrito em inglês assomam dois “provérbios” em francês, um
dos quais parece remeter à pintura “Lénore, les morts vont vite”, do pintor Ary
Scheffer (1795-1858), que, por sua vez, teria se inspirado na balada do poeta
alemão Gottfried August Bürger (1747-1794).
J.A.R. – H.C.
Kenneth Koch
Proverb
Les morts vont vite, the dead go fast,
the next day absent!
Et les vivants sont dingues, the living are
haywire.
Except for a few who
grieve, life rapidly readjusts itself
The milliner trims
the hat not thinking of the departed
The horse sweats and
throws his stubborn rider to the earth
Uncaring if he has
killed him or not
The thrown man rises.
But now he knows that he is not going,
Not going fast,
though he was close to having been gone.
The day after
Caesar’s death, there was a new, bustling Rome
The moment after the
racehorse’s death, a new one is sought for the stable
The second after a
moth’s death there are one or two hundred other moths
The month after
Einstein’s death the earth is inundated with new theories
Biographies are
written to cover up the speed with which we go:
No more presence in
the bedroom or waiting in the hall
Greeting to say hello
with mixed emotions. The dead go quickly
Not knowing why they
go or where they go. To die is human,
To come back divine.
Roosevelt gives way to Truman
Suddenly in the empty
White House a brave new voice resounds
And the wheelchaired
captain has crossed the great divide.
Faster than memories,
faster than old mythologies, faster than
the speediest train.
Alexander of Macedon,
on time!
Prudhomme on time,
Gorbachev on time, the beloved and the lover
on time!
Les morts vont vite. We living stand at
the gate
And life goes on.
O caçador de borboletas
(Carl Spitzweg:
pintor alemão)
Provérbio
Les morts vont vite, os mortos partem
depressa, no dia seguinte ausentes!
Et les vivants sont dingues, os vivos são
tresloucados.
Exceto por alguns que
se afligem, a vida rapidamente se reajusta
O chapeleiro adorna o
chapéu sem pensar nos que partiram,
O cavalo transpira e
atira o seu teimoso cavaleiro ao chão.
Sem importar-se se
ele o vitimou ou não
O homem arremessado
se levanta. Mas agora sabe que não avança,
não avança depressa, embora
estivesse próximo de ter ido embora.
No dia seguinte ao da
morte de César, houve uma nova e buliçosa Roma,
No momento seguinte
ao da morte do cavalo de corridas, se busca
um novo para o
estábulo,
No segundo seguinte
ao da morte de uma mariposa, existem cem
ou duzentas outras
mariposas,
No mês seguinte ao da
morte de Einstein, a terra está inundada
de novas teorias.
As biografias são
escritas para encobrir a velocidade com que vamos:
Não há mais presença no
dormitório ou espera no corredor,
Saudação para dizer olá
com baralhadas emoções. Os mortos partem
rapidamente
Sem saber por que
partem ou para onde partem. Morrer é humano,
Retornar é divino. Roosevelt
abre caminho a Truman.
De repente, na Casa
Branca vazia, ressoa uma nova e valente voz
E o capitão sobre
cadeira de rodas cruzou a grande divisória.
Mais rápido que as
memórias, que as antigas mitologias, que o trem
mais veloz.
Alexandre da
Macedônia, pontualmente!
Prudhomme pontualmente,
Gorbachev pontualmente, o amado
e o amante pontualmente!
Les morts vont vite. Estamos vivendo estacionados
à porta
E a vida continua.
Referência:
KOCH, Kenneth. Proverb. In: PINSKY,
Robert (Ed.). The best of the best
american poetry. 25th Anniversary Edition. New York, NY: Scribner Poetry,
2013. p. 130.
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