Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Kenneth Koch - Provérbio

Andando no limite, com pressa de chegar e, de repente, estamos frente à morte... e a vida continua sob um estresse sem sentido, pois que, sob o ponto de vista do poeta, uma vida condicionada por determinadas circunstâncias é plenamente substituível por outra que está à espera de lhe tomar o lugar.

Num poema escrito em inglês assomam dois “provérbios” em francês, um dos quais parece remeter à pintura Lénore, les morts vont vite, do pintor Ary Scheffer (1795-1858), que, por sua vez, teria se inspirado na balada do poeta alemão Gottfried August Bürger (1747-1794).

J.A.R. – H.C.

Kenneth Koch
(1925-2002)

Proverb

Les morts vont vite, the dead go fast, the next day absent!
Et les vivants sont dingues, the living are haywire.
Except for a few who grieve, life rapidly readjusts itself
The milliner trims the hat not thinking of the departed
The horse sweats and throws his stubborn rider to the earth
Uncaring if he has killed him or not
The thrown man rises. But now he knows that he is not going,
Not going fast, though he was close to having been gone.
The day after Caesar’s death, there was a new, bustling Rome
The moment after the racehorse’s death, a new one is sought for the stable
The second after a moth’s death there are one or two hundred other moths
The month after Einstein’s death the earth is inundated with new theories
Biographies are written to cover up the speed with which we go:
No more presence in the bedroom or waiting in the hall
Greeting to say hello with mixed emotions. The dead go quickly
Not knowing why they go or where they go. To die is human,
To come back divine. Roosevelt gives way to Truman
Suddenly in the empty White House a brave new voice resounds
And the wheelchaired captain has crossed the great divide.
Faster than memories, faster than old mythologies, faster than
the speediest train.
Alexander of Macedon, on time!
Prudhomme on time, Gorbachev on time, the beloved and the lover
on time!
Les morts vont vite. We living stand at the gate
And life goes on.

O caçador de borboletas
(Carl Spitzweg: pintor alemão)

Provérbio

Les morts vont vite, os mortos partem depressa, no dia seguinte ausentes!
Et les vivants sont dingues, os vivos são tresloucados.
Exceto por alguns que se afligem, a vida rapidamente se reajusta
O chapeleiro adorna o chapéu sem pensar nos que partiram,
O cavalo transpira e atira o seu teimoso cavaleiro ao chão.
Sem importar-se se ele o vitimou ou não
O homem arremessado se levanta. Mas agora sabe que não avança,
não avança depressa, embora estivesse próximo de ter ido embora.
No dia seguinte ao da morte de César, houve uma nova e buliçosa Roma,
No momento seguinte ao da morte do cavalo de corridas, se busca
um novo para o estábulo,
No segundo seguinte ao da morte de uma mariposa, existem cem
ou duzentas outras mariposas,
No mês seguinte ao da morte de Einstein, a terra está inundada
de novas teorias.
As biografias são escritas para encobrir a velocidade com que vamos:
Não há mais presença no dormitório ou espera no corredor,
Saudação para dizer olá com baralhadas emoções. Os mortos partem
rapidamente
Sem saber por que partem ou para onde partem. Morrer é humano,
Retornar é divino. Roosevelt abre caminho a Truman.
De repente, na Casa Branca vazia, ressoa uma nova e valente voz
E o capitão sobre cadeira de rodas cruzou a grande divisória.
Mais rápido que as memórias, que as antigas mitologias, que o trem
mais veloz.
Alexandre da Macedônia, pontualmente!
Prudhomme pontualmente, Gorbachev pontualmente, o amado
e o amante pontualmente!
Les morts vont vite. Estamos vivendo estacionados à porta
E a vida continua.

Referência:

KOCH, Kenneth. Proverb. In: PINSKY, Robert (Ed.). The best of the best american poetry. 25th Anniversary Edition. New York, NY: Scribner Poetry, 2013. p. 130.

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