Quem não tem uma lembrança boa – ou até mesmo não tão doce – dos Natais
vividos na infância, quando estávamos à volta com outros guris, ostentando as
últimas novidades em presentes que havíamos ganhado de nossos pais (não
exatamente do Papai Noel)?!...
O diplomata e poeta paulistano lembra-se do que lhe estava ao redor
naquelas circunstâncias – da natureza certamente mais luxuriante, o gado, os
pássaros e os peixes numa provável fazenda –, e com isso é capaz de reviver o
puro êxtase de uma época que permanece viva na memória.
J.A.R. – H.C.
Alberto da Costa e Silva
(n. 1931)
Soneto de Natal
Como esperar que o
dia pequenino,
com a mesa, a cama, o
copo, as cousas simples,
desate em nossas mãos
os lenços cheios
de canções e trigais
e ninfas tristes?
Menino já não sou.
Como de novo
conversar com os
pássaros, os peixes,
invejar o galope dos
cavalos
e voltar a sentir os
velhos êxtases?
A linguagem dos
grãos, do manso pêssego,
a bem-amada ensina e
novamente
sinto em mim o odor
de esterco e leite
dos currais onde a
infância tange as reses,
sorve a manhã e
permanece neste
cantor da relva
mínima e dos bois.
Véspera de Natal na Fazenda
(David Armstrong:
pintor norte-americano)
Referência:
COSTA E SILVA, Alberto. Soneto de Natal. In: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Antologias ABL: poesia / ABL’s Anthologies: poems. Idealização e apresentação de Ana Maria Machado. Organização de Domício Proença Filho e Marco Lucchesi. Edição bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: ABL, 2013. p. 6.
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