Reminiscências são a pedra de toque deste poema do poeta mineiro,
palavras e mais palavras pronunciadas ou apenas postas em movimento na mente,
que renascem nas elucubrações dos amantes, permeadas por todas as emoções que
as saturaram, mas ainda não totalmente assimiladas, absorvidas, esquecidas por
fim.
Se retornam é porque há algo que resultou inconcluso, a exigir um
desfecho peremptório, como se numa equação com “n” soluções possíveis, um
debate válido entre os pares fosse capaz de engendrar outras tantas expressões
hábeis a tornar o problema resolvível por uma única raiz.
J.A.R. – H.C.
Helvécio Goulart
(n. 1935)
As Palavras
Incline o rosto sobre
o coração do tempo
Incline o rosto e
escute a sua voz
Entre vozes caras
entre mão amenas
Agora a lua se parte
em dois pedaços
Os gatos começam a
dormir ao pé do fogo
Eles que estiveram
sempre ao lado dos naufrágios e
remorsos
Dormem pacificados
Incline o rosto sobre
o coração do tempo
Escute a própria voz vinda
do instante que você quiser
De uma ruela azul
cheia de árvores de ouro
Cor das pedras do
riacho que você conduz pela mão
Incline o rosto
enquanto leva o amor como
dois brincos nas
orelhas
Eu me pergunto onde
puseram meus joelhos
As laranjas mordidas de
minha boca
Os pêssegos de seus
olhos mas todos ficam mudos
Começam a mastigar os
vidros do silêncio
As palavras escorrem
em nosso peito
As palavras se
levantam do chão
Pintadas de vermelho
e amarelo
Aves a iniciar um
canto sussurrante para atenuar
a noite
E eu lhe digo que
escute o coração do tempo
Lá estão as vozes
mais queridas
Vozes perdidas
procuram encontrar-se
Querem ser recolhidas
e ouvidas
Nas palavras que se
quebraram partiram estão imóveis
e anseiam retomar
Para serem amadas
novamente
Olho do Oceano
(Chime Rosaldes:
jovem bareinita)
Referência:
GOULART, Helvécio. As palavras. In:
__________. Antologia poética.
Goiânia, GO: Editora da Universidade Federal de Goiás, 1995. p. 111. (Coleção
‘Vertentes’)
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