Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

James Welch - O Natal Chega à Planície Moccasin

Nesta descrição sombria do Natal em um dos arredores mais pobres da Reserva Indígena Blackfeet, nas planícies à volta das Montanhas Moccasin, no Estado de Montana (MT), nos EUA, Welch antepõe o passado heróico cheio de “honra e paixão” e o presente triste e carente dos atuais residentes da região.

A curandeira tem repulsa aos bens e mercadorias anunciadas pela televisão, pelos quais ninguém pode pagar: os orgulhosos ancestrais – “guerreiros de volta com carne e canto” – nas histórias dos anciãos, contrastam sobremaneira com os “guerreiros de bruços adormecidos pelo vinho” de hoje, homens arruinados e despojados de seus papéis tradicionais.

J.A.R. – H.C.

James Welch
(1940-2003)

Christmas Comes to Moccasin Flat

Christmas comes like this: Wise men
unhurried, candles bought on credit (poor price
for calves), warriors face down in wine sleep.
Winds cheat to pull heat from smoke.

Friends sit in chinked cabins, stare out
plastic windows and wait for commodities.
Charlie Blackbird, twenty miles from church
and bar, stabs his fire with flint.

When drunks drain radiators for love
or need, chiefs eat snow and talk of change,
an urge to laugh pounding in their ribs.
Elk play games in high country.

Medicine Woman, clay pipe and twist tobacco,
calls each blizzard by name and predicts
five o’clock by spitting at her television.
Children lean into her breath to beg a story.

Something about honor and passion,
warriors back with meat and song,
a peculiar evening star, quick vision of birth.
Blackbird feeds his fire. Outside, a quick 30 below.

Véspera de Natal em Nova York
(Hotel Plaza)
(Kidder Harvey: pintor norte-americano)

O Natal Chega à Planície Moccasin

O Natal chega assim: os sábios
sem pressa, as velas compradas a crédito (preço baixo
pelas vitelas), os guerreiros de bruços adormecidos pelo vinho.
Os ventos trapaceiam para extrair o calor da fumaça.

Os amigos se sentam em cabanas com frestas, olham pelas
janelas de plástico e esperam por mercadorias.
Charles Blackbird, a vinte milhas da igreja
e do bar, cutuca o seu fogo com pedernal.

No momento em que os bêbados drenam os radiadores por amor
ou necessidade, os chefes comem neve e falam de mudanças,
um ímpeto de rir batendo em suas costelas.
Os alces se divertem em terras altas.

A curandeira, com cachimbo de barro e tabaco retorcido,
chama cada nevasca pelo nome e prediz
cinco horas de cuspidelas em sua televisão.
As crianças se inclinam em seu alento para implorar uma história.

Algo sobre honra e paixão,
guerreiros de volta com carne e canto,
uma peculiar estrela da noite, rápida visão do nascimento.
Blackbird alimenta o seu fogo. Lá fora, já 30º negativos.

Referência:

WELCH, James. Christmas comes to moccasin flat. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 380.

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