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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 28 de dezembro de 2019

Odylo Costa, Filho - Poema de Natal

Um poema bem diferente sobre o nascimento de Cristo, que teria ficado consternado com a situação dos animais à volta – talvez porque não sejam capazes de ter consciência de sua própria condição de carência intelectiva –, para só depois olhar em direção aos seus pais, pastores e reis.

Sua mãe mostrou-lhe uma flor remanescente num fio de capim sobre a manjedoura, levando-o a alegrar-se, pois que pôde perceber o quanto a vida é um ciclo contínuo, ao longo da qual temos “mortes” parciais e “ressurreições” que nos restabelecem à condição de combatentes na luta por sua continuidade.

J.A.R. – H.C.

Odylo Costa, Filho
(1914-1979)

Poema de Natal

Quando Jesus nasceu
no presépio pobre
viu primeiro os bichos.
Teve pena deles,
mas sorriu.
Só então é que olhou os homens
– Maria, José, os pastores e os reis –
e, esquecido de que era Deus,
como qualquer outra criança
chorou.
O ar da terra entrou aos socos nos
pequenos pulmões.
Ficou Homem.

Aflita, a Mãe curvou-se.
Na manjedoura um fio de capim
guardava ainda a flor.
E a Senhora mostrou a vida sempre
renascente ao menino,
que voltou a sorrir.

Em: “Notícias de Amor” (1977)

A Natividade
(Georges La Tour: pintor francês)

Referência:

COSTA FILHO, Odylo. Poema de Natal. In: __________. Poesia completa. Edição preparada por Virgílio Costa, com a colaboração do Instituto Odylo Costa, Filho. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano; Fundação Biblioteca Nacional, 2010. p. 211.


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