Um poema bem diferente sobre o nascimento de Cristo, que teria ficado
consternado com a situação dos animais à volta – talvez porque não sejam
capazes de ter consciência de sua própria condição de carência intelectiva –,
para só depois olhar em direção aos seus pais, pastores e reis.
Sua mãe mostrou-lhe uma flor remanescente num fio de capim sobre a
manjedoura, levando-o a alegrar-se, pois que pôde perceber o quanto a vida é um
ciclo contínuo, ao longo da qual temos “mortes” parciais e “ressurreições” que
nos restabelecem à condição de combatentes na luta por sua continuidade.
J.A.R. – H.C.
Odylo Costa, Filho
(1914-1979)
Poema de Natal
Quando Jesus nasceu
no presépio pobre
viu primeiro os
bichos.
Teve pena deles,
mas sorriu.
Só então é que olhou
os homens
– Maria, José, os
pastores e os reis –
e, esquecido de que
era Deus,
como qualquer outra
criança
chorou.
O ar da terra entrou
aos socos nos
pequenos pulmões.
Ficou Homem.
Aflita, a Mãe
curvou-se.
Na manjedoura um fio
de capim
guardava ainda a
flor.
E a Senhora mostrou a
vida sempre
renascente ao menino,
que voltou a sorrir.
Em: “Notícias de Amor” (1977)
A Natividade
(Georges La Tour:
pintor francês)
Referência:
COSTA FILHO, Odylo. Poema de Natal. In:
__________. Poesia completa. Edição
preparada por Virgílio Costa, com a colaboração do Instituto Odylo Costa,
Filho. Rio de Janeiro, RJ: Aeroplano; Fundação Biblioteca Nacional, 2010. p.
211.
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