Um poema permeado por camadas de significados diversos, embora
incontroversamente dedicado ao alecrim, planta que exala um aroma agradável,
mas que acaba por se tornar uma pequena árvore de Natal, dada a sua forma facilmente
adaptável a uma base ou recipiente.
Os versos aludem a uma lenda cristã sobre a planta, como se pode
verificar neste endereço, muito embora ao alecrim se façam
inúmeras associações simbólicas, desde o amor erótico, a lembrança e a
fidelidade até a amizade e a sobredita lenda que vai a par com outra: o padrão
de crescimento da planta seria tal que, ao atingir a altura de Cristo, somente
se expandiria em largura, tomando mais ou menos a forma larga e limitada das
árvores natalinas.
J.A.R. – H.C.
Marianne Moore
(1887-1972)
Rosemary
Beauty and Beauty’s
son and rosemary –
Venus and Love, her
son, to speak plainly –
born of the sea
supposedly,
at Christmas each, in
company,
braids a garland of
festivity.
Not always rosemary –
since the flight to
Egypt, blooming indifferently.
With lancelike leaf,
green but silver underneath,
its flowers – white
originally –
turned blue. The herb
of memory,
imitating the blue
robe of Mary,
is not too legendary
to flower both as
symbol and as pungency.
Springing from stones
beside the sea,
the height of Christ
when he was thirty-three –
it feeds on dew and
to the bee
“hath a dumb language”;
is in reality
a kind of Christmas
tree.
A Madona e o Menino
(Joos van Cleve:
pintor flamengo)
Alecrim
A Beleza e o filho da
Beleza e o alecrim –
para falar claro, Vênus
e Amor, seu filho –,
supostamente do mar
nativos,
cada qual no Natal,
em convívio,
engrinalda festão
festivo.
Nem sempre alecrim –
desde a fuga para o
Egito, é diferente o viço.
De folha lanciforme,
verde mas argentina
por baixo, as flores –
brancas no início –
são hoje azuis. Não é
tão lendária
esta erva da memória,
que imita o
manto azul de Maria.
a ponto de florescer
como símbolo ou pique.
Medrando em pedras
junto ao mar, de Cristo
aos trinta
e três a estatura –
de rocio
se nutre e como a
abelha fala a “língua
do silêncio”; é na
verdade um tipo
de árvore de Natal.
Referência:
MOORE, Marianne. Rosemary / Alecrim. Tradução de José Antonio Arantes.
In: __________. Poemas. Seleção de
João Moura Júnior. Tradução e posfácio de José Antonio Arantes. São Paulo, SP:
Companhia das Letras, 1991. Em inglês: p. 138; em português: p. 139.
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