Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de dezembro de 2019

Rafael Díaz Ycasa - Feliz ano, Equador

Ycasa deseja um ano muito feliz ao seu país de origem – o Equador –, mas não especificamente àqueles que estão com a mesa farta, bebendo e comendo à vontade, enquanto a maior parte da população passa o momento – como diríamos? – de modo mais frugal ou modesto (ou até mesmo dormindo).

A derradeira estrofe do poema orienta-se àqueles que, em princípio, não são rigorosamente felizes – prostitutas, engraxates, alcoólatras, famintos e por aí vai –, de modo a fazer irônico contraponto aos que se dedicam a regalos mais ostensivos, citados nas estrofes imediatamente anteriores.

J.A.R. – H.C.

Rafael Díaz Ycasa
(1925-2013)

Feliz año, Ecuador

No soy un hombre, soy
mil millones de brazos
para el que está durmiendo
para el que está penando
para el que está sencillamente triste
en esto año de camisas nuevas
de vestidos de fiesta y de botellas
y de infidelidades alegremente nuevas.

Orejas del nuevo año, canto para vosotras
ojos del año nuevo
piernas, brazos, caderas, órganos postizos
digo para vosotros: viva el año nuevo
suelte sus camaretas y sus luces
arrojen sus muletas el hígado y el bazo.

Canto y doy voces, bailo
con el pie más alegre
sobre el izquierdo lado verdadero.

Digo que viva el año, digo vivan
la sarna del muchacho de cinco años
los aterciopelados
bigotes del general en jefe del ejército
vivan los pagarés, las letras, los martillos
y los tributos nuevos
digo vivan
las tetas prisioneras de las madres.

Buen año. Para todos, año bueno:
prostitutas, domésticas, limpiabotas
meseras, concubinas, alcohólicos, hambrientos
ajusticiados, prisioneros, locos
a los que estáis penando
a los que estáis durmiendo
a los que estáis sencillamente tristes.

En: “Zona Prohibida” (1972)

A Festa do Rei dos Feijões
(Jacob Jordaens: pintor flamengo)

Feliz ano, Equador

Não sou um homem, sou
mil milhões de braços
para o que está dormindo,
para o que está sofrendo,
para o que está simplesmente triste
neste ano de camisas novas,
de vestidos de festa e de garrafas,
e de infidelidades alegremente novas.

Orelhas do ano novo, canto para vós,
olhos de ano novo,
pernas, braços, quadris, órgãos postiços,
digo para vós: viva o ano novo,
soltem suas filmadoras e suas luzes,
soltem suas muletas, o fígado e o baço.

Canto e dou vozes, danço
com o pé mais alegre,
sobre o esquerdo, lado verdadeiro.

Digo que viva o ano, digo vivam
a sarna do menino de cinco anos,
os aveludados
bigodes do general em chefe do exército,
vivam as duplicatas, as letras, os leilões
e os novos tributos,
digo vivam
as tetas aprisionadas das mães.

Bom ano. Para todos, ano bom:
prostitutas, domésticas, engraxates,
garçonetes, concubinas, alcoólatras, famintos,
justiçados, prisioneiros, loucos,
para vós que estais sofrendo,
para vós que estais dormindo,
para vós que estais simplesmente tristes.

Em: “Zona Proibida” (1972)

Referência:

Ycasa, Rafael Díaz. Feliz año, Ecuador. In: __________. Señas y contrasueñas: antología poética. Guayaquil, EC: Núcleo del Guayas de la Casa de la Cultura Ecuatoriana, 1978. p. 66-67. (Colección ‘Letras del Ecuador’; n. 78)

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