Ycasa deseja um ano muito feliz ao seu país de origem – o Equador –, mas
não especificamente àqueles que estão com a mesa farta, bebendo e comendo à
vontade, enquanto a maior parte da população passa o momento – como diríamos? –
de modo mais frugal ou modesto (ou até mesmo dormindo).
A derradeira estrofe do poema orienta-se àqueles que, em princípio, não
são rigorosamente felizes – prostitutas, engraxates, alcoólatras, famintos e
por aí vai –, de modo a fazer irônico contraponto aos que se dedicam a regalos
mais ostensivos, citados nas estrofes imediatamente anteriores.
J.A.R. – H.C.
Rafael Díaz Ycasa
(1925-2013)
Feliz año, Ecuador
No soy un hombre, soy
mil millones de
brazos
para el que está durmiendo
para el que está
penando
para el que está sencillamente
triste
en esto año de
camisas nuevas
de vestidos de fiesta
y de botellas
y de infidelidades
alegremente nuevas.
Orejas del nuevo año,
canto para vosotras
ojos del año nuevo
piernas, brazos,
caderas, órganos postizos
digo para vosotros:
viva el año nuevo
suelte sus camaretas
y sus luces
arrojen sus muletas
el hígado y el bazo.
Canto y doy voces,
bailo
con el pie más alegre
sobre el izquierdo
lado verdadero.
Digo que viva el año,
digo vivan
la sarna del muchacho
de cinco años
los aterciopelados
bigotes del general
en jefe del ejército
vivan los pagarés,
las letras, los martillos
y los tributos nuevos
digo vivan
las tetas prisioneras
de las madres.
Buen año. Para todos,
año bueno:
prostitutas,
domésticas, limpiabotas
meseras, concubinas,
alcohólicos, hambrientos
ajusticiados,
prisioneros, locos
a los que estáis
penando
a los que estáis
durmiendo
a los que estáis
sencillamente tristes.
En: “Zona Prohibida” (1972)
A Festa do Rei dos Feijões
(Jacob Jordaens:
pintor flamengo)
Feliz ano, Equador
Não sou um homem, sou
mil milhões de braços
para o que está
dormindo,
para o que está
sofrendo,
para o que está
simplesmente triste
neste ano de camisas novas,
de vestidos de festa
e de garrafas,
e de infidelidades alegremente
novas.
olhos de ano novo,
pernas, braços,
quadris, órgãos postiços,
digo para vós: viva o
ano novo,
soltem suas
filmadoras e suas luzes,
soltem suas muletas,
o fígado e o baço.
Canto e dou vozes,
danço
com o pé mais alegre,
sobre o esquerdo,
lado verdadeiro.
Digo que viva o ano,
digo vivam
a sarna do menino de
cinco anos,
os aveludados
bigodes do general em
chefe do exército,
vivam as duplicatas,
as letras, os leilões
e os novos tributos,
digo vivam
as tetas aprisionadas
das mães.
Bom ano. Para todos,
ano bom:
prostitutas,
domésticas, engraxates,
garçonetes,
concubinas, alcoólatras, famintos,
justiçados,
prisioneiros, loucos,
para vós que estais
sofrendo,
para vós que estais
dormindo,
para vós que estais
simplesmente tristes.
Em: “Zona Proibida” (1972)
Referência:
Ycasa, Rafael Díaz. Feliz año, Ecuador. In: __________. Señas y contrasueñas: antología poética. Guayaquil, EC: Núcleo del Guayas de la Casa de la Cultura Ecuatoriana, 1978. p. 66-67. (Colección ‘Letras del Ecuador’; n. 78)
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