O poema abaixo é um dos que compõem a obra “Das Marien-Leben” (“Vida de Maria”),
de 1912, e se concentra no momento de nascimento de Cristo, como se a voz
lírica – presume-se de Maria – se dirigisse ao menino, com ele dialogando e lhe
informando das coisas que naquele momento lhe sucediam.
O enfoque do poema, apesar de ater-se em boa medida às descrições das
Escrituras, não deixa de afastar-se do convencional, pois Rilke, enquanto
dotado poeta, sabe como poucos engendrar conexões entre as ideias, fazendo-as
entornar a poesia necessária para que o texto transmita algo capaz de perdurar
no tempo.
J.A.R. – H.C.
Rainer Maria Rilke
(1875-1926)
Geburt Christi
Hättest du der
Einfalt nicht, wie sollte
dir geschehn, was
jetzt die Nacht erhellt?
Sieh, der Gott, der
über Völkern grollte,
macht sich mild und kommt
in dir zur Welt.
Hast du dir ihn
größer vorgestellt?
Was ist Größe? Quer
durch alle Maße,
die er durchstreicht,
geht sein grades Los.
Selbst ein Stern hat
keine solche Straße.
Siehst du, diese
Könige sind groß,
und sie schleppen dir
vor deinen Schoß
Schätze, die sie für
die größten halten,
und du staunst
vielleicht bei dieser Gift –:
aber schau in deines
Tuches Falten,
wie er jetzt schon
alles übertrifft.
Aller Amber, den man
weit verschifft,
jeder Goldschmuck und
das Luftgewürze,
das sich trübend in
die Sinne streut:
alles dieses war von
rascher Kürze,
und am Ende hat man
es bereut.
Aber (du wirst
sehen): Er erfreut.
(Duino, Januar 1912)
Virgem que Adora o Menino
(Correggio: pintor
italiano)
Natividade
Se não tivesses a
simplicidade, como isso poderia
haver-te sucedido, o
que agora ilumina a noite?
Eis que o Deus que se
exasperou ante as nações
se faz brando e vem
ao mundo em ti.
Tu o havias imaginado
maior?
O que é a grandeza?
Através de todas as dimensões
pelas quais passa,
segue ele em seu reto caminho.
Sequer uma estrela
tem um percurso como o seu.
Olha o quão grandes
são esses reis,
a trazerem para ti,
em seus regaços,
tesouros que
consideram os maiores,
e talvez te
surpreendam tais presentes –:
mas repara nas dobras
do teu manto,
como ele já a tudo
supera.
Todo o âmbar, trazido
de longe,
todo o ouro forjado e
as especiarias aromáticas,
que toldam e
entorpecem os sentidos:
Tudo isso foi breve e
fugaz,
e, ao final, objeto
de lamento.
Mas (verás): traz contentamento.
(Duíno, Janeiro de 1912)
Referência:
RILKE, Rainer Maria. Geburt Christi.
In: __________. Das Marien-Leben. Leipzig,
DE: Druck der Offizin W. Drugulin, 1912. s. 15. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 dez.
2019.
De quem é a tradução?
ResponderExcluirCaro Lucas,
ExcluirÉ uma versão minha ao português, assim como todas as que, postadas no blog, não contenham, explicitamente, o nome do tradutor, a teor do quanto descrito no campo superior esquerdo "Nota Sobre as Traduções".
João A. Rodrigues