Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Frank O’Hara - Cartão de Natal para Grace Hartigan

Um lindo poema inserto num cartão de Natal enviado por O’Hara a Grace Hartigan (1922-2008), grande pintora norte-americana, adepta do expressionismo abstrato: nele perdura a mensagem de que o Natal é o que nos faz arder internamente, mantendo aceso o desejo de que os fatos e circunstâncias da vida tornem-se favoráveis a todos.

Pois o Natal é uma festa universal de confraternização, com significados cristãos – é verdade –, embora também imbuído de um sentido ecumênico, a menos considerar a religião de cada um, senão o propósito de se fazer valer o princípio da felicidade – a “eudaimonia” aristotélica –, um estado de plenitude do ser em comunhão com o Eterno.

J.A.R. – H.C.

Frank O’Hara
(1926-1966)

Christmas Card to Grace Hartigan

There’s no holly, but there is
the glass and granite towers
and the white stone lions
and the pale violet clouds. And
the great tree of balls in
Rockefeller Plaza is public.

Christmas is green and general
like all great works of the
imagination, swelling from minute
private sentiments in the desert,
a wreath around our intimacy
like children’s voices in a park.

For red there is our blood
which, like your smile, must be
protected from spilling into
generality by secret meanings,
the lipstick of life hidden
in a handbag against violations.

Christmas is the time of cold air
and loud parties and big expense,
but in our hearts flames flicker
answeringly, as on old-fashioned
trees. I would rather the house
burn down than our flames go out.

Rua Lombard em São Francisco
(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)

Cartão de Natal para Grace Hartigan

Não há azevinho, há contudo
as torres de vidro e granito,
os leões de pedra branca
e as nuvens de um violeta pálido. E
a grande árvore de bolas na
Plaza Rockefeller é pública.

O Natal é verde e universal,
tal como todas as grandes obras da
imaginação, avultando a partir de ínfimos
sentimentos privados no deserto,
uma coroa ao redor de nossa intimidade
como as vozes das crianças num parque.

No tocante ao vermelho, há o nosso sangue
que, como o teu sorriso, deve ser
protegido para que não se difunda
em generalidades por meio de ocultos sentidos,
o batom da vida escondido
em uma bolsa contra violações.

O Natal é a época do ar frio,
das festas ruidosas e dos grandes gastos,
porém em nossos corações as chamas se agitam
em resposta, como em árvores
à moda antiga. Preferiria que a casa
ardesse a que nossas chamas se apagassem.

Referência:

O’HARA, Frank. Christmas card to Grace Hartigan. In: __________. The collected poems of Frank O’Hara. Edited by Donald Allen. First paperback printing. Berkeley and Los Angeles (CA): University of California Press, 1995. p. 212.


Nenhum comentário:

Postar um comentário