Um lindo poema inserto num cartão de Natal enviado por O’Hara a Grace
Hartigan (1922-2008), grande pintora norte-americana, adepta do expressionismo abstrato: nele
perdura a mensagem de que o Natal é o que nos faz arder internamente, mantendo
aceso o desejo de que os fatos e circunstâncias da vida tornem-se favoráveis a
todos.
Pois o Natal é uma festa universal de confraternização, com significados
cristãos – é verdade –, embora também imbuído de um sentido ecumênico, a menos considerar
a religião de cada um, senão o propósito de se fazer valer o princípio da
felicidade – a “eudaimonia” aristotélica –, um estado de plenitude do ser em
comunhão com o Eterno.
J.A.R. – H.C.
Frank O’Hara
(1926-1966)
Christmas Card to Grace Hartigan
There’s no holly, but
there is
the glass and granite
towers
and the white stone
lions
and the pale violet
clouds. And
the great tree of
balls in
Rockefeller Plaza is
public.
Christmas is green
and general
like all great works
of the
imagination, swelling
from minute
private sentiments in
the desert,
a wreath around our
intimacy
like children’s
voices in a park.
For red there is our
blood
which, like your
smile, must be
protected from
spilling into
generality by secret
meanings,
the lipstick of life
hidden
in a handbag against
violations.
Christmas is the time
of cold air
and loud parties and
big expense,
but in our hearts
flames flicker
answeringly, as on
old-fashioned
trees. I would rather
the house
burn down than our
flames go out.
Rua Lombard em São Francisco
(Thomas Kinkade:
pintor norte-americano)
Cartão de Natal para Grace Hartigan
Não há azevinho, há contudo
as torres de vidro e
granito,
os leões de pedra
branca
e as nuvens de um violeta
pálido. E
a grande árvore de
bolas na
Plaza Rockefeller é
pública.
O Natal é verde e
universal,
tal como todas as
grandes obras da
imaginação, avultando
a partir de ínfimos
sentimentos privados
no deserto,
uma coroa ao redor de
nossa intimidade
como as vozes das
crianças num parque.
No tocante ao
vermelho, há o nosso sangue
que, como o teu
sorriso, deve ser
protegido para que
não se difunda
em generalidades por
meio de ocultos sentidos,
o batom da vida
escondido
em uma bolsa contra
violações.
O Natal é a época do
ar frio,
das festas ruidosas e
dos grandes gastos,
porém em nossos
corações as chamas se agitam
em resposta, como em
árvores
à moda antiga.
Preferiria que a casa
ardesse a que nossas
chamas se apagassem.
Referência:
O’HARA, Frank. Christmas card to Grace
Hartigan. In: __________. The collected
poems of Frank O’Hara. Edited by Donald Allen. First paperback printing.
Berkeley and Los Angeles (CA): University of California Press, 1995. p. 212.
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