O poeta vislumbra em sua magnólia cheia de flores, com um vagalume em
circunvoluções ao redor, o protótipo de uma árvore de Natal, divisando ainda um
anjo a menear suas amplas asas de algodão, num céu coberto de nuvens.
Ou será que a visão do poeta teria sido exatamente ao contrário: lobrigou
em sua árvore de Natal estandardizada – com direito a bolas enfeitadas e piscas
– algo mais vivo, digo melhor, animado como a natureza, devolvendo o ânimo do
que se passa logo ali, para além da porta que dá para a rua? “A terra morena
transpira.”...
J.A.R. – H.C.
Guilherme de Almeida
(1890-1969)
Noite de Natal
A terra morena
transpira.
Na magnólia cheia de
flores e perfume
vira e gira
um vagalume.
A magnólia parece um
céu artificial
com luas brancas
penduradas
e estrelinhas vadias
niqueladas.
Ó minha árvore de
Natal!
O outro céu, em cima,
entorna
outras joias. E
vestido de cerração
como um arcanjo
branco sobre a terra morna
desce o silêncio das
asas de algodão.
Em: “Meu” (1922-1923)
Árvore de Natal: 1958
(Andy Warhol: artista
norte-americano)
Referência:
ALMEIDA, Guilherme de. Noite de Natal.
In: __________. Toda a poesia. Tomo
IV. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, nov. 1952. p. 177-178.
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