Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Guilherme de Almeida - Noite de Natal

O poeta vislumbra em sua magnólia cheia de flores, com um vagalume em circunvoluções ao redor, o protótipo de uma árvore de Natal, divisando ainda um anjo a menear suas amplas asas de algodão, num céu coberto de nuvens.

Ou será que a visão do poeta teria sido exatamente ao contrário: lobrigou em sua árvore de Natal estandardizada – com direito a bolas enfeitadas e piscas – algo mais vivo, digo melhor, animado como a natureza, devolvendo o ânimo do que se passa logo ali, para além da porta que dá para a rua? “A terra morena transpira.”...

J.A.R. – H.C.

Guilherme de Almeida
(1890-1969)

Noite de Natal

A terra morena transpira.
Na magnólia cheia de flores e perfume
vira e gira
um vagalume.

A magnólia parece um céu artificial
com luas brancas penduradas
e estrelinhas vadias niqueladas.

Ó minha árvore de Natal!

O outro céu, em cima, entorna
outras joias. E vestido de cerração
como um arcanjo branco sobre a terra morna
desce o silêncio das asas de algodão.

Em: “Meu” (1922-1923)

Árvore de Natal: 1958
(Andy Warhol: artista norte-americano)

Referência:

ALMEIDA, Guilherme de. Noite de Natal. In: __________. Toda a poesia. Tomo IV. São Paulo, SP: Livraria Martins Editora, nov. 1952. p. 177-178.

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