Homenagens a Camões existem amiúde entre os poetas daqui e de além-mar,
terra onde nasceu o imortal lusitano. E, na maioria dos casos, sob a forma de sonetos,
aquela em que mais se esmerou, tendo-o levado ao panteão dos grandes
compositores em língua portuguesa, assim como Pessanha ou Cruz e Sousa.
No presente caso, o infratranscrito soneto é da lavra de Luís Delfino –
catarinense como Cruz e Sousa –, um poeta que, costumeiramente, não aparece
entre aqueles que são difundidos nos compêndios escolares de literatura
brasileira, embora isso se deva em grande parte ao próprio autor, pois, tendo
escrito mais de cinco mil poemas, quase nada publicou em vida, senão um de seus
filhos, depois de o pai haver falecido.
J.A.R. – H.C.
(1834-1910)
A Luís de Camões
Devias ter colhido
estrelas luminosas
Para fazer o fogo
enorme e criador,
E o bronze preparar
das formas grandiosas
Da estátua do feroz e
horrendo Adamastor.
Devias ter bebido às
curvas graciosas
Do céu o leite doce e
cheio de vigor,
Que sai dos seios nus
das cintilantes rosas,
Para pintar Inês – a
pérola do amor.
Devias ter sorvido as
lágrimas da aurora,
Para a Vênus gentil
pintar, quando ela chora
Perturbando no Olimpo
os deuses imortais.
Mas para encher de
sóis teu canto imorredouro
Devias ter roubado ao
Deus a pena d’ouro,
Com que ele pinta o
azul a traços colossais.
Em: “Algas e Musgos” (Edição Póstuma em 1927)
ao Cabo da Boa Esperança
(Évariste Fragonard:
litografista francês)
Referência:
DELFINO, Luís. A Luís de Camões. In:
__________. Os melhores poemas de Luís
Delfino. Seleção de Lauro Junkes. 3. ed. São Paulo, SP: Global, 1998. p.
69. (Coleção ‘Os Melhores Poemas’; n. 23)
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário