Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Luís Delfino - A Luís de Camões

Homenagens a Camões existem amiúde entre os poetas daqui e de além-mar, terra onde nasceu o imortal lusitano. E, na maioria dos casos, sob a forma de sonetos, aquela em que mais se esmerou, tendo-o levado ao panteão dos grandes compositores em língua portuguesa, assim como Pessanha ou Cruz e Sousa.

No presente caso, o infratranscrito soneto é da lavra de Luís Delfino – catarinense como Cruz e Sousa –, um poeta que, costumeiramente, não aparece entre aqueles que são difundidos nos compêndios escolares de literatura brasileira, embora isso se deva em grande parte ao próprio autor, pois, tendo escrito mais de cinco mil poemas, quase nada publicou em vida, senão um de seus filhos, depois de o pai haver falecido.

J.A.R. – H.C.

Luís Delfino
(1834-1910)

A Luís de Camões

Devias ter colhido estrelas luminosas
Para fazer o fogo enorme e criador,
E o bronze preparar das formas grandiosas
Da estátua do feroz e horrendo Adamastor.

Devias ter bebido às curvas graciosas
Do céu o leite doce e cheio de vigor,
Que sai dos seios nus das cintilantes rosas,
Para pintar Inês – a pérola do amor.

Devias ter sorvido as lágrimas da aurora,
Para a Vênus gentil pintar, quando ela chora
Perturbando no Olimpo os deuses imortais.

Mas para encher de sóis teu canto imorredouro
Devias ter roubado ao Deus a pena d’ouro,
Com que ele pinta o azul a traços colossais.

Em: “Algas e Musgos” (Edição Póstuma em 1927)

Aparição de Adamastor próximo
ao Cabo da Boa Esperança
(Évariste Fragonard: litografista francês)

Referência:

DELFINO, Luís. A Luís de Camões. In: __________. Os melhores poemas de Luís Delfino. Seleção de Lauro Junkes. 3. ed. São Paulo, SP: Global, 1998. p. 69. (Coleção ‘Os Melhores Poemas’; n. 23)

Nenhum comentário:

Postar um comentário